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Conheça a candidata preta a vice-presidente da OAB-RJ que é filha de lavradores

Advogada Angela Kimbangu, que está na única chapa com componentes pretos na diretoria da OAB, contou um pouco de sua história na profissão e falou sobre racismo

A advogada Angela Kimbangu.Créditos: Divulgação
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Única com componentes pretos na diretoria da OAB e que cumpriu as cotas raciais, a "Chapa 3 - Reviravolta", uma das que disputa a presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio de Janeiro, tem como candidata a vice-presidente a advogada Angela Kimbangu.

Presidente da Associação Advocacia Preta Carioca Umoja, Angela é filha de lavradores do interior do Estado do Rio de Janeiro e tem sua atuação pautada na militância da advocacia na área de infância e juventude.

Comprometida com a advocacia preta, pobre e periférica, Angela Kimbangu relembra os episódios racistas que já sofreu e acredita que ter mais profissionais pretos na advocacia é fundamental para a democracia. "A chapa 3 tem o compromisso de olhar para esses profissionais, pobres, pretos e periféricos, que não tem tradição na advocacia", afirma.

Confira a entrevista:

Na sua opinião, qual a importância de termos uma chapa com uma mulher preta?

É muito importante termos uma chapa com uma mulher preta. Principalmente depois de tantos anos de luta do povo preto, como o nosso próprio irmão Luís Gonzaga Pinto da Gama, mais conhecido como Luiz Gama. É importantíssimo termos uma mulher compondo uma chapa que é plural e termos uma candidatura numa chapa onde tem uma mulher preta como vice-presidente e comprometida com a advocacia, exatamente preta de base, pobre e periférica, como nós temos dentro da Associação Preta Carioca Umoja, onde estou presidente.

Já sofreu algum tipo de preconceito no exercício da advocacia? E fora dela?

Sim, com certeza. Já aconteceu de eu estar numa audiência, sentada no local correto, onde fica o advogado, começar a audiência e o juiz me perguntar: "Quem é a senhora?". Só que eu sou uma advogada que me posiciono. Isso não me para, pelo contrário, me dá forças para continuar e firmar o meu pé. Não há hierarquia entre juiz, Ministério Público e advocacia. Por isso, não deixo nenhum juiz me subestimar nem subjugar, porque eu acredito na força da advocacia, na importância de se posicionar. Eu entreguei a carteira ao juiz e falei “Advogada, Excelência, boa tarde” e seguimos.

Qual o diferencial da Chapa 3?

O diferencial da Chapa 3 é exatamente sua composição, que é plural, que abraça e tem a pretensão de continuar abraçando toda a advocacia do Estado do Rio de Janeiro. É uma chapa formada por militantes na advocacia e não de advogados que estão dentro de escritórios encastelados que sequer conhecem a senha do seu token. Diferente disso, a Chapa 3 é aquela formada por advogados que conhecem a senha do seu token, com certeza.

Dentro da sua história de vida e essência, qual a importância de termos mais profissionais pretos na advocacia? E qual a importância disso para a democracia?

Ter mais profissionais pretos é fundamental para a democracia. Porque, se a gente parar para pensar, com o advento das cotas, a advocacia será cada vez mais preta, pobre e periférica. Porque os pretos, que são pobres e moram na periferia também conseguem passar no Enem, entrar numa universidade, concluir o curso de Direito, fazem a prova da Ordem, passam e se tornam advogados. Em que pese, eu não sou das cotas, eu as defendo.

Até nesse sentido, a chapa 3 tem o compromisso de olhar para esses profissionais, que não têm tradição na advocacia. E, na maioria das vezes, não querem estar dentro da Ordem. Eu os convenço, explicando a importância de estarmos dentro do nosso órgão de classe, porque somos advogados como qualquer outro colega e também queremos o respeito de toda a advocacia.

Fale um pouco mais de você, da sua história de vida e de como se tornou advogada

Eu me tornei advogada porque minha família passou por uma situação complicada de desrespeito e aquilo nos humilhou muito. Sou de uma família de lavradores de São Sebastião do Paraíba, Cantagalo (RJ). Uma pessoa estava errada, entrou dentro da nossa casa, nos humilhou e meus pais escutaram, e, por serem muito humildes, não colocaram a pessoa para fora.

Ali eu vi o quanto aquilo foi duro e, então, eu decidi estudar Direito, numa época em que isso era impossível para mim. Na ocasião, eu ouvi com desprezo "você vai fazer faculdade de Direito?" E riram de mim. Só que hoje eu estou aqui, não é? Para quem quiser ver. Minha intenção, ao escolher o Direito, era defender a minha família para que eles nunca mais passassem por aquele tipo de humilhação.

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