PTB: não se morre duas vezes – Por Everton Gomes
O PTB que abarcou o ultraliberalismo, o bolsonarismo e o olavismo entre seus dogmas nos últimos anos, foi um projeto natimorto
O TSE autorizou a fusão do antigo PTB de Roberto Jefferson com o Patriota para a criação de um novo partido político. Agora, o Partido Trabalhista Brasileiro deixará de existir enquanto legenda. Desde outubro de 2022, já havia perdido mais de 26 mil filiados, consolidando 156 mil a menos desde 2014, segundo o TSE. Sua guinada à extrema direita não passou impune.
Mas uma coisa é certa: não se morre duas vezes. O PTB que abarcou o ultraliberalismo, o bolsonarismo e o olavismo entre seus dogmas nos últimos anos, foi um projeto natimorto. Quando a ditadura militar manietou as articulações dos trabalhistas autênticos para a retomada do PTB, em 1979, entregando a legenda histórica criada pelo presidente Vargas a políticos conservadores alinhados com o regime, estava assinada a completa descaracterização ideológica do partido.
Já em 1982, em seu primeiro pleito, o PTB lançou Jânio Quadros para governador de São Paulo e Sandra Cavalcanti para governadora do Rio de Janeiro, dois expoentes da direita brasileira. Ambas crias políticas de Carlos Lacerda, a própria personificação do antigetulismo.
A deputada federal Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio cassada pelo AI-5 e liderança desse PTB, faleceu em 1984, deixando a legenda nas mãos de personagens como Roberto Jefferson.
Se a liderança de Ivete garantia mínima ligação com o trabalhismo histórico, a partir de sua morte, foram cortadas todas as ligações. No PTB de Jefferson havia a Medalha Getúlio Vargas, a bandeira, as cores (preta, branca e vermelha), as sessões parlamentares em homenagem à memória de Vargas nos dias 19 de abril e 24 de agosto (nascimento e morte de Getúlio) e tudo o mais que, esteticamente, pudesse remeter ao trabalhismo.
Mas na essência, no programa, na prática política de seus governantes e parlamentares, no apoio a governos ultraliberais como Collor, FHC, Temer e Bolsonaro, absolutamente nada havia de trabalhismo.
Roberto Jefferson se tornou expoente da "tropa de choque" de Fernando Collor, defendendo-o do inevitável impeachment até as últimas consequências. E esteve, nos últimos 40 anos, quase sempre contra o povo, com exceção de alguns movimentos pontuais, como o apoio à Frente Trabalhista que lançou Ciro Gomes candidato à Presidência da República em 2002, que integrávamos pelo PDT.
Vale lembrar: o PTB ocupou o Ministério do Trabalho durante o governo Temer, e endossou a "reforma" trabalhista, que impôs um grande desafio a todos nós, gestores das políticas públicas para o trabalho, que agora precisamos dar nó em pingo d'água para gerar empregos formais e valorizados quando a nova legislação é um estímulo à informalidade e à precarização.
Nos últimos anos, a pá de cal. O PTB abraçou o bolsonarismo, mudando seu estatuto e seu programa e abraçando teses diametralmente opostas ao trabalhismo, como o “estado mínimo", os delírios reacionários do olavismo e lançando candidatos, a pretexto de combater a corrupção, personagens como Eduardo Cunha, historicamente entreguistas e adeptos de causas impopulares.
Aboliu as cores históricas para adotar o verde e amarelo, lindas cores da nossa bandeira, mas para pregar o oposto do que um nacionalista pregaria: o desmonte do Estado e da economia nacional.
Por isso, esse PTB farsesco, que terminou seus dias lançando um candidato à presidência "fake" (o único candidato no mundo que, contra o presidente da vez, manifestou-se a seu favor), não fará nenhuma falta. O PTB de Getúlio, Jango e Brizola, morreu com a cassação dos partidos políticos pelo AI-2, de 1965. A invenção de um novo PTB, entregue não aos verdadeiros trabalhistas, mas a inimigos do trabalhismo, materializou o plano de seu autêntico arquiteto, o general Golbery do Couto e Silva: tentar confundir o povo. Nós, os verdadeiros trabalhistas, sempre alertamos, e o tempo nos deu razão.
*Everton Gomes é cientista político e secretário municipal de Trabalho e Renda do Rio.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.