ORIENTE MÉDIO

Vitória dos terroristas na Síria foi "presente de Black Friday" para os EUA, analisa especialista

Na visão do professor Ramez Maalouf, o Sul Global sai derrotado do conflito com ascensão de terroristas

Créditos: Reprodução/CBS News
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A tomada da Síria pelos insurgentes do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) marcou o colapso final do governo de Bashar al-Assad e, com ele, o desmoronamento do Estado Nacional Sírio.

Após 53 anos sob o controle da família al-Assad, a Síria entra em um novo e incerto capítulo sob o comando dos terroristas do HTS. No entanto, os desdobramentos vão muito além das fronteiras do país.

Em entrevista à Fórum, o professor Ramez Maalouf, doutor em Geografia pela USP e especialista em Geopolítica e Oriente Médio, o impacto da ascensão do HTS é global e reflete uma reconfiguração de forças na região.

"Os grandes beneficiários da destruição da Síria são, sem dúvida nenhuma, a Turquia, Israel e, sobretudo, os Estados Unidos", afirma.

Os EUA - que atuam na Síria há mais de uma década - ganhou um "um presente de Black Friday, de graça, um trabalho quase que gratuito", segundo Ramez, haja vista que o HTS, majoritariamente financiado e apoiado pela Turquia, conseguiu em poucas semanas derrubar um governo que os EUA não conseguiu derrubar com suas próprias mãos.

"Esses terroristas querem implantar um falso Estado Islâmico, mas não obedecendo às fronteiras reconhecidas internacionalmente. Então, eles podem invadir o Líbano, podem invadir o Iraque", explica o professor.

Sobre a possibilidade de resistência, Maalouf não é otimista. "As resistências continuarão existindo, isso fora do que era a Síria. Dentro do país, é provável que tenha um ou outro foco de resistência a essa invasão terrorista. Mas ela vai ser realmente muito mais fraca do que poderíamos imaginar, porque, afinal de contas, o Estado Nacional Sírio foi devastado", completa Ramez.

Desafios para o Sul Global 

A Síria recebia um apoio enfático do Irã e da Rússia, que tinham interesses claros em fortalecer o quadro anti-hegemônico no Oriente Médio.

Com a derrocada de Assad, o sistema internacional pode se alterar drasticamente, segundo Ramez, beneficiando de maneira intensa os interesses do Ocidente na região e oferecendo um desafio para o chamado Sul Global.

"O impacto é imenso e o impacto não se restringe ao mundo árabe ou ao mundo muçulmano. O impacto é mundial. O Sul Global saiu derrotado dessa guerra e foi um golpe profundo no Sul Global, um golpe profundo nos BRICS, que precisarão ter uma nova perspectiva, não mais apenas comercial", afirma.

"Os Estados Unidos, nesse sentido, como potência já em processo de erosão de poder, os Estados Unidos conseguiram golpear profundamente o Sul Global e golpear a Rússia, o Irã e a China. Realmente, trata-se de um golpe profundo que os Estados Unidos conseguiram desferir contra esse bloco anti-hegemônico liderado por Rússia, China e Irã", completa o professor Ramez Maalouf.

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