Wesam e Naeem, irmãos gêmeos, nasceram poucos dias após o início dos bombardeios israelenses à Faixa de Gaza, uma “reação” do governo extremista de Benjamin Netanyahu aos ataques iniciados pelo grupo Hamas em 7 de outubro do ano passado. Um menino e uma menina. Rania Abu Anza, a mãe deles, conta que após 11 anos casada esses eram seus primeiros filhos. Já vieram ao mundo enfrentando o horror da carnificina imposta pela mortífera máquina de guerra de Tel Aviv.
Os bebês, que nasceram sob as bombas, viveram pouco. Eles morreram juntos na última semana num bombardeio à cidade de Rafah, em mais um ataque devastador que mata quase que na totalidade apenas civis. Nos poucos meses de vida eles não conheceram o significado da palavra paz. O pai deles, marido de Rania, também morreu. Quem assina o relato são os jornalistas Bassam Masoud e Nidal al-Mughrabi, da agência Reuters.
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Aliás, o bombardeio ao conjunto de casas matou ainda outras três crianças e outros oito adultos, o que somado aos gêmeos e ao pai deles, resulta numa chacina de 14 pessoas num único ataque, presumivelmente realizado por drones ou por mísseis disparados por caças supersônicos das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês).
“Meu coração se foi”, diz a mulher, arrasada, enquanto balbucia em voz baixa para um familiar, agarrada ao corpo de uma das crianças: “Deixe-a comigo”, após receber um pedido para que entregasse o pequeno cadáver ensanguentado para o sepultamento. O outro bebê seguia no colo de um parente e ambos vestiam um sudário branco, típico no credo islâmico para funerais, usando pijaminhas listrados por baixo.
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A Faixa de Gaza está sendo varrida do mapa pela ação militar de Israel, que escuta críticas de todo o planeta por suas monstruosas operações, sem dar ouvidos. Até este domingo (3), o número de mortos era exatamente 30.410, a imensa maioria formada por mulheres, crianças e idosos. Hospitais viraram pó de cimento, prédios da ONU foram abaixo, campos de refugiados tornaram-se grandes cemitérios em chamas, comboios de ajuda humanitária são explodidos ou impedidos de entrar no território.
Desorientada e sem qualquer expectativa na vida, Rania diz que espera um cessar-fogo para os próximos dias, antes do início do Ramadã (que este ano vai de 10 de março a 8 de abril), o feriado religioso mais importante para os muçulmanos. Ela diz que esse é seu desejo, mas a pergunta que deixa ao final é desesperadora.
“Estávamos nos preparando para o Ramadã. Como supostamente devo viver minha vida agora?”, questiona, sem os filhos, o marido, outros familiares e a casa.