Enquanto Donald Trump se gaba de ter costurado um "acordo de paz" em discurso no Knesset, o parlamento sionista em Israel, Lula anunciou ações práticas contra os efeitos do genocídio promovido por Benjamin Netanyahu em Gaza durante participação na reunião do Conselho de Campeões da Aliança contra a Fome e a Pobreza, durante evento anual da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em Roma, na manhã desta segunda-feira (13).
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No discurso, Lula anunciou que a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza - iniciativa criada pelo governo brasileiro - já tem 9 projetos-pilotos prontos e citou uma iniciativa em território palestino como prioridade.
"Na Palestina, onde a desnutrição tem sido cruelmente usada como arma de guerra, vamos apoiar programas de atenção especial voltados às mulheres e crianças", anunciou o presidente brasileiro.
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Lula ainda listou os outros projetos, que contarão com apoio técnico da FAO.
"Junto com Haiti e Zâmbia, implementaremos iniciativas de transferência de renda. No Quênia, nosso foco será o acesso à água potável. A escolha da Etiópia foi guiada pela urgência de fortalecer a agricultura familiar. No Benin, apoiaremos a expansão do sistema de merenda escolar. Em Ruanda, trabalharemos pela inclusão socioeconômica. Reconhecendo tanto as vulnerabilidades quanto a força transformadora das mulheres, a Tanzânia quer dedicar atenção especial a elas e às crianças. Ainda temos estudos para projetos em Moçambique, Indonésia, Camboja, Bangladesh e República Dominicana", revelou.
Leia o discurso na íntegra
Discurso do presidente Lula durante Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
É uma enorme satisfação encerrar a 2ª Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Quero cumprimentar a todos pelo trabalho durante este ano. O empenho desse Conselho nos permitiu chegar até aqui.
Vivemos em um mundo hiper conectado, com inteligência artificial, avanços científicos e até planos de habitar a lua.
Mas a persistência da fome e da pobreza são as provas mais dolorosas de que falhamos como comunidade global.
Foi com esse senso de urgência que o Brasil, ao assumir a presidência do G20, propôs a criação desta Aliança Global.
A fórmula é simples:
1) Reunir políticas públicas que deram certo
2) Articular essas políticas com recursos e conhecimento
3) Apostar em cooperação, sem condicionalidades e
4) Garantir que a adaptação e a implementação de programas seja liderada pelos países receptores.
O objetivo é dobrar esforços para o cumprimento das Metas 1 e 2 da Agenda 2030.
Em apenas um ano de funcionamento da Aliança, alcançamos 200 membros: 103 países, 53 fundações e ONGs, 30 organizações internacionais e 14 instituições financeiras.
A Espanha tem sido parceira na liderança deste Fórum.
Hoje, damos um passo decisivo: inauguramos o Mecanismo de Apoio da Aliança, com sede, secretariado e direção.
Com contribuições da Noruega, Portugal, Espanha e Brasil, asseguramos parte dos recursos necessários para o funcionamento do Mecanismo até 2030.
A FAO será nosso braço técnico.
Já temos 9 projetos-piloto prontos.
Na Palestina, onde a desnutrição tem sido cruelmente usada como arma de guerra, vamos apoiar programas de atenção especial voltados às mulheres e crianças.
Junto com Haiti e Zâmbia, implementaremos iniciativas de transferência de renda.
No Quênia, nosso foco será o acesso à água potável.
A escolha da Etiópia foi guiada pela urgência de fortalecer a agricultura familiar.
No Benin, apoiaremos a expansão do sistema de merenda escolar.
Em Ruanda, trabalharemos pela inclusão socioeconômica.
Reconhecendo tanto as vulnerabilidades quanto a força transformadora das mulheres, a Tanzânia quer dedicar atenção especial a elas e às crianças.
Ainda temos estudos para projetos em Moçambique, Indonésia, Camboja, Bangladesh e República Dominicana.
Mas sejamos claros: sem recursos financeiros não haverá transformação.
Ano passado a ajuda oficial ao desenvolvimento registrou uma queda de 23% em relação aos níveis pré-pandêmicos.
Essa retração atinge em cheio os países mais pobres e endividados, sobretudo na África, onde a insegurança alimentar cresceu de forma alarmante.
Se não agirmos com urgência, em 2030 ainda teremos quase 9% da população mundial vivendo em situação de extrema pobreza.
Por isso, faço dois apelos urgentes.
Primeiro, aos bancos multilaterais e países doadores:
É necessário rever as prioridades.
Programas de ajuste fiscal não são um fim em si mesmo que justifiquem a redução do investimento em desenvolvimento humano e social.
Não há melhor estímulo para a economia global do que o combate à fome e à pobreza.
Os recursos disponíveis devem ser mobilizados para enfrentar os desafios reais da humanidade.
Quando isso acontece, o consumo aumenta, o mercado aquece e novos ciclos de desenvolvimento florescem.
Meu segundo apelo é para aos governos nacionais.
É hora de colocar os pobres no orçamento.
A inclusão social não pode ser apenas uma promessa — ela precisa estar refletida na arquitetura fiscal, nos investimentos públicos e nos planos de transformação produtiva.
O Brasil voltou a sair do Mapa da Fome da FAO por conta de políticas integradas de transferência de renda, fortalecimento da agricultura familiar, merenda escolar, geração de empregos e aumento de salário-mínimo.
Instituímos ainda um Plano Nacional de Cuidados que deve tirar o fardo do trabalho doméstico e não remunerado das mulheres.
Neste mês, a Câmara de Deputados aprovou a isenção do imposto de renda para quem ganha até aproximadamente mil dólares mensais, e o aumento de 10% para quem ganha mais de 100 mil dólares por ano.
Essa progressividade tributária vai ampliar os recursos para o financiamento se políticas públicas essenciais.
Meus amigos e minhas amigas,
Quero agradecer o governo do Catar, na figura do Emir Tamim ibn Hamad Al Thani, por sediar o primeiro Encontro de Líderes da Aliança, no dia 3 de novembro, à margem da Segunda Cúpula do Desenvolvimento Social da ONU.
Devido à proximidade com a Cúpula de Líderes da COP, infelizmente, eu não poderei comparecer.
Mas o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Wellington Dias [Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome] representarão o Brasil.
Mostraremos que a Aliança é uma resposta concreta e real.
Na COP30, em Belém, queremos adotar uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima.
A segurança alimentar precisa estar no centro da ação climática.
As Contribuições Nacionalmente Determinadas precisam incluir proteção social, resiliência do pequeno produtor e soluções que gerem renda e preservem a biodiversidade.
Somente um novo modelo de desenvolvimento justo e sustentável poderá assegurar um futuro para as próximas gerações.
Nesse futuro,
» Nenhuma mulher ou homem terá que trabalhar sem se alimentar
» Nenhuma criança deve estudar com fome
» Nenhum agricultor deve sofrer com falta de crédito ou de assistência técnica
» Ninguém deve viver sem acesso à água
Sigamos com seriedade e coragem.
Muito obrigado.