LÍDER MUNDIAL

Lula anuncia ação contra fome na Palestina, "onde desnutrição tem sido usada como arma de guerra"

Lula anunciou ação prática após a tentativa de genocídio na Faixa de Gaza, enquanto Trump se gabava de acordo de paz em discurso no Knesset, o parlamento sionista. Aliança contra a fome terá mais 8 projetos-pilotos.

Lula durante reunião do Conselho de Campeões (“Board of Champions”) da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.Créditos: Ricardo Stuckert / PR
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Enquanto Donald Trump se gaba de ter costurado um "acordo de paz" em discurso no Knesset, o parlamento sionista em Israel, Lula anunciou ações práticas contra os efeitos do genocídio promovido por Benjamin Netanyahu em Gaza durante participação na reunião do Conselho de Campeões da Aliança contra a Fome e a Pobreza, durante evento anual da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em Roma, na manhã desta segunda-feira (13).

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No discurso, Lula anunciou que a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza - iniciativa criada pelo governo brasileiro - já tem 9 projetos-pilotos prontos e citou uma iniciativa em território palestino como prioridade.

"Na Palestina, onde a desnutrição tem sido cruelmente usada como arma de guerra, vamos apoiar programas de atenção especial voltados às mulheres e crianças", anunciou o presidente brasileiro.

Lula ainda listou os outros projetos, que contarão com apoio técnico da FAO.

"Junto com Haiti e Zâmbia, implementaremos iniciativas de transferência de renda. No Quênia, nosso foco será o acesso à água potável. A escolha da Etiópia foi guiada pela urgência de fortalecer a agricultura familiar. No Benin, apoiaremos a expansão do sistema de merenda escolar. Em Ruanda, trabalharemos pela inclusão socioeconômica. Reconhecendo tanto as vulnerabilidades quanto a força transformadora das mulheres, a Tanzânia quer dedicar atenção especial a elas e às crianças. Ainda temos estudos para projetos em Moçambique, Indonésia, Camboja, Bangladesh e República Dominicana", revelou.

Leia o discurso na íntegra

Discurso do presidente Lula durante Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza

É uma enorme satisfação encerrar a 2ª Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Quero cumprimentar a todos pelo trabalho durante este ano. O empenho desse Conselho nos permitiu chegar até aqui.

Vivemos em um mundo hiper conectado, com inteligência artificial, avanços científicos e até planos de habitar a lua.

Mas a persistência da fome e da pobreza são as provas mais dolorosas de que falhamos como comunidade global.

Foi com esse senso de urgência que o Brasil, ao assumir a presidência do G20, propôs a criação desta Aliança Global.

A fórmula é simples:

1) Reunir políticas públicas que deram certo

2) Articular essas políticas com recursos e conhecimento

3) Apostar em cooperação, sem condicionalidades e

4) Garantir que a adaptação e a implementação de programas seja liderada pelos países receptores.

O objetivo é dobrar esforços para o cumprimento das Metas 1 e 2 da Agenda 2030.

Em apenas um ano de funcionamento da Aliança, alcançamos 200 membros: 103 países, 53 fundações e ONGs, 30 organizações internacionais e 14 instituições financeiras.

A Espanha tem sido parceira na liderança deste Fórum.

Hoje, damos um passo decisivo: inauguramos o Mecanismo de Apoio da Aliança, com sede, secretariado e direção.

Com contribuições da Noruega, Portugal, Espanha e Brasil, asseguramos parte dos recursos necessários para o funcionamento do Mecanismo até 2030.

A FAO será nosso braço técnico.

Já temos 9 projetos-piloto prontos.

Na Palestina, onde a desnutrição tem sido cruelmente usada como arma de guerra, vamos apoiar programas de atenção especial voltados às mulheres e crianças.

Junto com Haiti e Zâmbia, implementaremos iniciativas de transferência de renda.

No Quênia, nosso foco será o acesso à água potável.

A escolha da Etiópia foi guiada pela urgência de fortalecer a agricultura familiar.

No Benin, apoiaremos a expansão do sistema de merenda escolar.

Em Ruanda, trabalharemos pela inclusão socioeconômica.

Reconhecendo tanto as vulnerabilidades quanto a força transformadora das mulheres, a Tanzânia quer dedicar atenção especial a elas e às crianças.

Ainda temos estudos para projetos em Moçambique, Indonésia, Camboja, Bangladesh e República Dominicana.

Mas sejamos claros: sem recursos financeiros não haverá transformação.

Ano passado a ajuda oficial ao desenvolvimento registrou uma queda de 23% em relação aos níveis pré-pandêmicos.

Essa retração atinge em cheio os países mais pobres e endividados, sobretudo na África, onde a insegurança alimentar cresceu de forma alarmante.

Se não agirmos com urgência, em 2030 ainda teremos quase 9% da população mundial vivendo em situação de extrema pobreza.

Por isso, faço dois apelos urgentes.

Primeiro, aos bancos multilaterais e países doadores:

É necessário rever as prioridades.

Programas de ajuste fiscal não são um fim em si mesmo que justifiquem a redução do investimento em desenvolvimento humano e social.

Não há melhor estímulo para a economia global do que o combate à fome e à pobreza.

Os recursos disponíveis devem ser mobilizados para enfrentar os desafios reais da humanidade.

Quando isso acontece, o consumo aumenta, o mercado aquece e novos ciclos de desenvolvimento florescem.

Meu segundo apelo é para aos governos nacionais.

É hora de colocar os pobres no orçamento.

A inclusão social não pode ser apenas uma promessa — ela precisa estar refletida na arquitetura fiscal, nos investimentos públicos e nos planos de transformação produtiva.

O Brasil voltou a sair do Mapa da Fome da FAO por conta de políticas integradas de transferência de renda, fortalecimento da agricultura familiar, merenda escolar, geração de empregos e aumento de salário-mínimo.

Instituímos ainda um Plano Nacional de Cuidados que deve tirar o fardo do trabalho doméstico e não remunerado das mulheres.

Neste mês, a Câmara de Deputados aprovou a isenção do imposto de renda para quem ganha até aproximadamente mil dólares mensais, e o aumento de 10% para quem ganha mais de 100 mil dólares por ano.

Essa progressividade tributária vai ampliar os recursos para o financiamento se políticas públicas essenciais. 

Meus amigos e minhas amigas,

Quero agradecer o governo do Catar, na figura do Emir Tamim ibn Hamad Al Thani, por sediar o primeiro Encontro de Líderes da Aliança, no dia 3 de novembro, à margem da Segunda Cúpula do Desenvolvimento Social da ONU.

Devido à proximidade com a Cúpula de Líderes da COP, infelizmente, eu não poderei comparecer.

Mas o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Wellington Dias [Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome] representarão o Brasil.

Mostraremos que a Aliança é uma resposta concreta e real.

Na COP30, em Belém, queremos adotar uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima.

A segurança alimentar precisa estar no centro da ação climática.

As Contribuições Nacionalmente Determinadas precisam incluir proteção social, resiliência do pequeno produtor e soluções que gerem renda e preservem a biodiversidade.

Somente um novo modelo de desenvolvimento justo e sustentável poderá assegurar um futuro para as próximas gerações.

Nesse futuro,

» Nenhuma mulher ou homem terá que trabalhar sem se alimentar

» Nenhuma criança deve estudar com fome

» Nenhum agricultor deve sofrer com falta de crédito ou de assistência técnica

» Ninguém deve viver sem acesso à água

Sigamos com seriedade e coragem.

Muito obrigado.

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