CESSAR-FOGO

Trump busca crédito com fim da "guerra" após apoiar genocídio em Gaza

Com terra arrasada e 67 mil vidas perdidas em território palestino em dois anos de ataques israelenses, maior desafio será avançar no restante do plano de paz

Donald Trump e Benjamin Netanyahu no Knesset, o parlamento israelense.Créditos: Foto por SAUL LOEB / POOL / AFP
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou nesta segunda-feira (13) ao parlamento israelense, o Knesset, para fazer um discurso aos parlamentares sobre os planos para a paz em Gaza. Recebido pelo presidente do parlamento, Amir Ohana, e pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Trump, que sorriu ao chegar, disse que a visita era uma “grande honra” e foi aplaudido de pé pelos presentes.

O contexto é marcado pelas negociações mediadas por EUA, Qatar, Turquia e Egito, que resultaram em um plano da administração Trump para a “desradicalização” do conflito, prevendo uma gestão internacional do território.

O documento pela primeira vez afasta o controle direto de Israel sobre a região, mas não trata da soberania palestina ou do reconhecimento da Palestina como um estado soberano. O desafio central para a região será avançar na negociação do restante do plano de paz, que conta com 20 pontos.

Trump afirmou neste domingo (12) que a guerra em Gaza "terminou" enquanto viajava para Israel e Egito para celebrar um acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns. "A guerra terminou, certo? Entenderam?", disse a jornalistas. Dias antes, o primeiro-ministro de Israel, Beijamin Netanyahu, tinha dito que a campanha militar "não acabou", apesar do acordo firmado com o Hamas na última quarta-feira (8). Mas Trump insistiu que o cessar-fogo se manteria, contrariando Netanyahu.

Trump quer se colocar como "pacificador" após fomentar conflito na região

A insistência não teria como objetivo principal a "paz" que tanto Trump repete, já que o republicano chegou a apoiar a ofensiva sionista no genocídio em Gaza, mas melhorar a sua imagem diante do mundo e se colocar como a figura "pacificadora" do conflito, que já dura dois anos. De acordo com informações da BBC, o apoio de potências regionais, a pressão coordenada da Europa e a capacidade de Trump em influenciar ambos os lados, algo que Joe Biden não conseguiu em seu mandato, foram essenciais para destravar o impasse diplomático e pavimentar o acordo. A relação de Biden com o governo de Netanyahu sempre foi mais tênue.

Várias vezes os Estados Unidos e o Estado israelense votaram contra resoluções de conflito do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a garantia de paz no local. O discurso de paz e o andamento pelo acordo acelerou após o primeiro-ministro de Israel ser vaiado na cúpula na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) e integrantes de delegações de vários países se retirarem da plenária, um indicativo importante da indignação do mundo com a crise humanitária em Gaza.

Nesta manhã (13), o Hamas libertou 20 reféns israelenses na Faixa de Gaza em dois lotes e os entregou ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha. No mesmo momento, prisioneiros palestinos liberados por Israel chegam a Ramallah, na Cisjordânia ocupada, simbolizando o começo da troca de detentos incluída no acordo de cessar-fogo negociado por Donald Trump entre Israel e o Hamas.

Pelo plano, todos os reféns israelenses vivos em Gaza serão trocados por 250 prisioneiros palestinos condenados a longas penas, 88 deles da Prisão de Ofer e 162 da Prisão de Ketziot, no Negev. Os palestinos estão sendo transferidos para Gaza e, posteriormente, a maioria será deportada para o Egito. A medida também prevê a libertação de aproximadamente 1.718 detidos de Gaza capturados após o início da guerra em 7 de outubro de 2023.

Segundo autoridades palestinas, cerca de meio milhão de pessoas voltaram ao norte da Faixa de Gaza nos últimos dois dias, após a saída das forças israelenses. A região, marcada por destruição, começa a receber de volta seus moradores. Milhares enfrentaram longas jornadas a pé, de carro ou em carroças ao longo da estrada costeira para tentar reencontrar o que restou de seus lares. A ofensiva militar destruiu boa parte da cidade, estima-se que até três quartos dos edifícios tenham sido danificados.

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