Em 2024, o presidente Lula (PT) instituiu, depois de aprovação no Congresso Nacional, o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto, em 16 de abril. A data foi escolhida por um motivo bem específico: homenagear o embaixador brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas (1876-1954).
Mas, afinal, o que ele fez para merecer tal reverência? Pois o diplomata, “apenas”, salvou centenas de pessoas do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial.
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Fabio Koifman, historiador e biógrafo de Souza Dantas, destacou que a celebração é uma marca essencial, principalmente, no momento em que a intolerância, seja étnica, religiosa, de gênero, entre outras, aumenta cada vez mais.
Na avaliação de Koifman, é importante que as pessoas tenham como referência alguém que foi um “anteparo contra a violação dos direitos humanos perpetrada por um Estado”, afirmou, em entrevista à RFI.
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Onde atuou o diplomata?
Luiz Martins de Souza Dantas foi embaixador do Brasil na França à época da Segunda Guerra Mundial. Ele chegou a contrariar a política do governo brasileiro de então, liderado por Getúlio Vargas, concedeu vistos e salvou centenas de pessoas ameaçadas pelos nazistas, principalmente judeus.
Em reconhecimento, recebeu o título de “Justo entre as Nações”, atribuído pelo Memorial do Holocausto (Yad Vashem), em Israel. A atuação considerada heroica e extraordinária de Souza Dantas na França foi praticamente desprezada até os anos 1980.
Como a memória do embaixador foi resgatada?
O trabalho de pesquisa de Fabio Koifman foi imprescindível para o resgate da memória e do legado do embaixador. Ele publicou, em 2002, a biografia “Um Quixote nas trevas”.
O historiador conseguiu recolher mais de 7.500 documentos e disse ter subsídios para afirmar que Souza Dantas salvou da ação nefasta do Holocausto mais de 500 pessoas.
Outra brasileira também recebeu o título de “Justo entre as Nações”, do Memorial do Holocausto. Trata-se de Aracy de Carvalho, companheira do também diplomata, escritor e médico brasileiro Guimarães Rosa. Ela ajudou várias pessoas perseguidas pelo nazismo no Consulado-Geral do Brasil em Hamburgo, na Alemanha.
Por que a data é importante especialmente para o Brasil?
Fabio Koifman, que atuou fortemente para a escolha de 16 de abril, reiterou que o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto é realmente necessário, especialmente em um período de “intolerância generalizada” e avanço do “racismo”.
Segundo o historiador, as vítimas do nazismo já são lembradas em todo o mundo, em 27 de janeiro, no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
“Uma série de valores, que a gente imaginou que já estavam sedimentados, parece que estão se esvaindo, como uma questão de empatia em relação aos que sofrem, aos refugiados, aos dramas, aos grupos que são vítimas de violação dos direitos humanos”, acrescentou o historiador.
Ele apontou, ainda, que a data é “importante, especialmente para o Brasil ter como referência alguém que atuou em sentido contrário, para se dizer que existiram pessoas que foram solidárias e empáticas, que agiram contrariando os próprios interesses colocando em risco, e foram anteparo para a violação dos direitos humanos perpetrado por um Estado, por uma organização”.
Como aproximar o tema da população brasileira?
Koifman disse, também, que a lembrança da atuação de um “personagem brasileiro” aproxima a população do tema em questão.
Ele avaliou que o antissemitismo avançou, significativamente, no mundo nos últimos anos, principalmente depois do conflito na Faixa de Gaza, e o Brasil também sente esse impacto.
“Não é apenas o antissemitismo, mas também o racismo e a homofobia. Todo esse conjunto de intolerâncias parece estar relacionado com a forma como a internet e os grupos sociais atuam. As pessoas, principalmente os mais jovens, acabam se radicalizando, e uma intolerância generalizada emerge ou se desenvolve”, refletiu Koifman.
“É importante educar, mas só a educação não é suficiente. É necessário haver penalização criminal para aqueles que se manifestam de forma racista. Esperamos que o mundo digital, da internet e das redes sociais, embora mais complexo, também seja alvo de punições. Esta é a forma de construir, a longo prazo, uma sociedade mais justa, com valores comuns para indivíduos, comunidades e direitos humanos”, completou.
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