Um estudo recente do Climate Action Tracker (CAT) expôs a ineficiência das políticas climáticas globais. Embora países ricos tenham reduzido suas emissões, o ritmo é insuficiente para evitar um aquecimento de 2,7°C até o final do século XXI. Essa falha coloca em risco o futuro do planeta, especialmente considerando que esses países são historicamente responsáveis pela maior parte das emissões.
A análise do CAT destaca que a projeção de aumento de temperatura de 2,7 °C tem 50% de chance de se concretizar. Existe ainda uma probabilidade de 33% de que o aumento chegue a 3 °C ou mais e 10% de que ultrapasse 3,6 °C, o que seria "um nível absolutamente catastrófico de aquecimento", segundo Sofia Gonzales-Zuniga, autora principal do estudo e integrante da Climate Analytics. A ausência de alterações nas previsões nos últimos três anos, conforme o CAT, revela uma desconexão crítica entre a gravidade das mudanças climáticas e a falta de urgência dos governos em adotar políticas eficazes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
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Em 2021, seis anos após o Acordo de Paris, as estimativas do consórcio CAT indicaram que o aumento da temperatura seria de 2,7 °C com as políticas em vigor e de 2,1 °C caso as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) fossem implementadas. Em 2015, ano do acordo, o consórcio havia projetado que as políticas da época levariam a um aquecimento de 3,6 °C até o fim do século. Com as NDCs, a estimativa era de um aumento de 2,7 °C.
O estudo do Climate Action Tracker aprofunda a análise das maiores nações emissoras, revelando que China, Estados Unidos, Índia, União Europeia, Indonésia, Japão e Austrália são responsáveis por 60% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2022, quando se considera apenas as emissões diretas, excluindo desmatamento e outras mudanças no uso da terra. Ao incluir a Troika — Emirados Árabes Unidos, Azerbaijão e Brasil, países que lideram as negociações climáticas nos próximos anos —, esse número sobe para 63%.
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O relatório destaca que essas dez regiões, detentoras de grande poder econômico e geopolítico, possuem um papel crucial na definição do futuro do clima global. A pesquisa também aprofunda a análise de outros países importantes, como Canadá, Alemanha, Reino Unido, Noruega, México, Argentina e Arábia Saudita, ressaltando a necessidade de ações mais ambiciosas por parte de todos os grandes emissores.
Desmonte ambiental de Trump
Os Estados Unidos, maior produtor de petróleo do mundo e o segundo maior emissor de gases de efeito estufa, embora estejam adotando iniciativas para reduzir suas emissões, as medidas não serão suficientes para conter os gases de efeito estufa. A implementação da Lei de Redução da Inflação, sancionada pelo presidente Joe Biden, destaca-se como um exemplo, com foco na diminuição das emissões no setor energético.
No entanto, o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos pode ter um impacto negativo nas políticas climáticas do país. Embora o efeito exato dessa mudança ainda seja incerto, uma estimativa preliminar do CAT sugere que o desmonte ambiental característico de sua gestão anterior poderia adicionar 0,04°C ao aquecimento global, que se projeta para alcançar 2,7°C até 2100.
Reconhecido negacionista da crise climática, o republicano prometeu durante sua campanha aumentar a produção de combustíveis fósseis e limitar os gastos de Biden com iniciativas de economia verde. Trump também declarou que retiraria os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, como fez por um período durante seu primeiro mandato. Ele ainda está cogitando a saída da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) de 1992, o tratado internacional que estabelece a estrutura para os países cooperarem no enfrentamento das mudanças climáticas.
"Eleição de Donald Trump como presidente impactaria os níveis de temperatura projetados que apresentamos aqui, mas não se sabe até que ponto", dizem pesquisadores
Apesar da queda nas emissões, as políticas energéticas do Japão continuam a contradizer os objetivos globais de limitar o aquecimento global. O país deveria reduzir suas emissões em 81% até 2035, mas sua estratégia atual prioriza tecnologias duvidosas e a expansão de energias renováveis permanece lenta. A Austrália, por sua vez, mantém um forte apoio à indústria de combustíveis fósseis, com metas de redução de emissões insuficientes e incentivos à exploração de carvão e gás.
O atraso na implementação de políticas climáticas mais ambiciosas pode resultar em um aquecimento global superior a 1,5°C por um longo período, mesmo com medidas drásticas no futuro. A remoção de CO2 da atmosfera, embora essencial, não será suficiente para compensar a falta de ação imediata. O estudo completo pode ser conferido aqui.
*Com informações de Observatório do Clima