Após denúncia de escravização, população de país africano quebra templos e quer expulsar Igreja Universal

Pastor africano foi preso após acusar em perfil falso nas redes sociais brasileiros ligados à igreja de Edir Macedo de se apropriarem de dízimos, além de "humilhar, insultar, esmagar e escravizar os (pastores) africanos"

População de São Tomé e Príncipe depreda tempo da Igreja Universal, de Edir Macedo (Reprodução)
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Denúncias publicadas nas redes sociais sobre abusos que a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, estaria cometendo em São Tomé e Príncipe, na África, gerou revolta na população que depredaram diversos tempos e querem a expulsão da IURD do país. Entre as denúncias, o pastor Iudumilo da Costa Veloso, usando perfil fake no Facebook com o nome de Laurente Didier, acusa bispos e pastores brasileiros de se apropriar de dízimos recebidos pela igreja, além de "humilhar, insultar, esmagar e escravizar os (pastores) africanos", segundo reportagem da BBC Brasil. Veloso virou pastor da Universal em seu país natal, mas foi transferido há 14 anos para a Iurd da Costa do Marfim. Ele foi detido e nove dias depois considerado culpado pelas mensagens e condenado a um ano de prisão. Veloso teria confessado à polícia a autoria das mensagens e foi obrigado a fazer uma publicação se retratando. A defesa diz, no entanto, que ele é inocente e foi induzido a assumir a responsabilidade na expectativa de ser solto. Revolta e morte Grávida, Ana Paula Veloso, mulher do pastor, foi expulsa da Costa do Marfim pela igreja de Edir Macedo e voltou à São Tomé e Príncipe, onde divulgou na mídia e nas redes sociais a prisão do marido. Os depoimentos da mulher se espalharam e geraram revolta entre muitos são-tomenses, para quem a Universal havia orquestrado a prisão de Veloso para impedir a divulgação de denúncias contra a igreja. Em 16 de outubro, centenas de manifestantes vandalizaram e saquearam seis dos 20 templos da Universal em São Tomé. Eles exigiam que a Universal negociassem com autoridades marfinenses a soltura de Veloso e seu retorno ao país natal. A Polícia Militar interveio, e um manifestante são-tomense de 13 anos morreu baleado. O nome do jovem não foi revelado. O produtor cultural são-tomense Nig d'Alva, que estudou administração de empresas em Fortaleza, diz à BBC que a revolta "foi a gota d'água de decepções que algumas pessoas tiveram em relação à igreja". Segundo d'Alva, há "repulsa" em São Tomé e Príncipe quanto a uma postura da Universal que ele classifica como "segregadora": ele diz que muitos fiéis da Iurd deixaram de conviver com outras pessoas "porque a igreja diz que são mundanas, que não são cristãs o suficiente, e isso cria um ódio." Esse descontentamento, segundo ele, se somou a uma reação nacionalista contra detenção na Costa do Marfim "de um filho da terra sem que houvesse uma resposta do estado são-tomense e da própria igreja". Expulsão Em meio à revolta, o Parlamento de São Tomé e Príncipe passou a discutir a expulsão da Universal no país. A parlamentar Alda Ramos, uma das principais líderes da oposição, disse a jornalistas que a Iurd deveria repatriar o pastor, ou "acionaremos outros mecanismos para não existir mais esta igreja cá em São Tomé e Príncipe". Segundo o banco de dados da CIA, a agência de inteligência dos EUA, 2% dos são-tomenses frequentam a Iurd. O catolicismo é a principal religião do país, abarcando 55,7% da população. A possibilidade de que a igreja fosse banida no país interrompeu as férias do embaixador brasileiro em São Tomé e Príncipe, Vilmar Júnior, que retornou ao país para tentar apaziguar os ânimos. A ameaça também mobilizou a cúpula da Iurd no Brasil.