Bolsonaro segue modelo húngaro e quer colocar a mídia sob sua influência

A exemplo do presidente húngaro, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta semana algumas medidas que deverão atacar diretamente a receita de diversos veículos de imprensa

Bolsonaro com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán (Reprodução)
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O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, tem aplicado no país diversas medidas para inviabilizar a prática jornalística dos veículos de mídia independente, conhecidos por criticar diretamente o presidente de direita. No Brasil, práticas semelhantes as do presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) apontam que ele está seguindo os mesmos passos do seu colega populista de direita. Assim como Bolsonaro, Orban se queixava de que a mídia tradicional o atacava injustamente, além de tachar a imprensa independente de “fake news”. Para tal, empresários ligados ao partido do presidente realizaram a compra da maior parte desses veículos, além de o governo ter aprovado leis que ameaçam a liberdade de imprensa e a viabilidade financeira dos veículos. Algumas dessas leis húngaras de mídia preveem multas para veículos de mídia que fizerem “cobertura desequilibrada”, “insultuosa” ou em violação à “moralidade pública”. Também acaba com a proteção ao sigilo das fontes e obriga a mídia a fazer cobertura “autêntica, rápida e precisa” das notícias. Orbán também aprovou tributação que atinge diretamente a maior TV do país, a RTL, que é crítica a ele. Ainda, foram adotadas várias medidas que dificultam uso de leis de acesso à informação, algo que quase ocorreu no Brasil, mas foi brecado pelo Congresso no início do ano. A exemplo do presidente húngaro, nesta terça-feira (6), Bolsonaro assinou uma medida provisória que ataca diretamente a receita de vários veículos de imprensa. A MP acabará com a obrigação de empresas de capital aberto de publicar seus balanços em jornais de grande circulação. Agora, elas poderão publicá-las gratuitamente no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), em vez de veículos impressos. A MP ainda deverá ser aprovada no Congresso, para então seguir para sanção presidencial. "No dia de ontem [6] eu retribuí parte daquilo que a grande mídia me atacou. Assinei uma medida provisória fazendo com que os empresários que gastavam milhões de reais ao publicar obrigatoriamente por força de lei seus balancetes agora podem fazê-lo no Diário Oficial da União a custo zero", disse, em entrevista publicada no jornal Folha de S.Paulo. Nesta quarta-feira (7), Bolsonaro anunciou que avalia retirar mais uma fonte de receita dos jornais: a publicação de editais de concorrências públicas, concursos e leilões. Práticas semelhantes foram feitas na Hungria que, segundo cálculo da London School of Economics, possui cerca de 90% da mídia sob influência do Fidesz.