Temendo represálias de Bolsonaro, cientistas não assinam estudo sobre aumento de incêndios na Amazônia

Estudo confirmou que o número de incêndios em agosto deste ano foi quase três vezes maior do que em 2018

Foto: Esio Mendes
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Uma pesquisa brasileira publicada na revista científica Global Change Biology na última sexta-feira (15) confirmou que os incêndios de agosto na Amazônia foi quase três vezes maior do que em 2018. No entanto, com medo de represálias por parte do governo, pesquisadores de instituições federais brasileiras decidiram não assinar o estudo. “Alguns colaboradores recusaram a coautoria neste trabalho para manterem-se no anonimato. Lamentamos que isso fosse necessário e gostaríamos de agradecê-los por sua importante contribuição”, diz o estudo, em seus agradecimentos. Ainda segundo o estudo, que se baseou em dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), um dos institutos que foi alvo de ataques de Bolsonaro e seus ministros, os incêndios registrados na Amazônia este ano foram os mais intensos desde 2010. Os cientistas também associam o fogo com a alta do desmatamento. “O aumento acentuado de ambos os incêndios e os desmatamentos em 2019 refuta, portanto, a consideração de que agosto de 2019 foi um mês ‘normal’ na Amazônia brasileira”, diz o estudo. No entanto, na época em que ocorreram, Bolsonaro insistiu no discurso de que as queimadas estavam dentro da normalidade e que muitas eram causadas por ONGs, ou até mesmo por indígenas. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também alegou que o fogo estava atrelado ao tempo seco do bioma. Ainda, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, chegou a dizer, em uma reunião fechada com investidores e empresários em Washington, em setembro, que os satélites usados pelo Inpe não conseguiam distinguir "grandes incêndios" de "fogueiras de acampamento".