Passado o perigo Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno, a família Marinho começou a mostrar os dentes para Guilherme Boulos (PSOL).
Candidato de Lula, o psolista enfrentou uma bancada que se colocou no lugar do fujão Ricardo Nunes (MDB), que não compareceu ao primeiro debate do segundo turno, realizado pela rádio CBN, na manhã desta quinta-feira (10).
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Sem o candidato apoiado por Jair Bolsonaro, Vera Magalhães, Milton Jung e Maria Cristina Fernandes deixaram de lado as perguntas sobre propostas para a cidade e, de forma escrota, ocuparam o lugar de Nunes - e em muitos momentos se assemelharam a Pablo Marçal - nas provocações e interrupções ao candidato do PSOL.
Logo no início da entrevista de uma hora, Vera Magalhães reclamou do "tom" de Boulos em meio à insistente pergunta de Jung se o candidato, que tem uma história na luta por moradia dentro do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), "apoia ocupação de casas".
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"O senhor está em busca desse eleitor estridente de Marçal por isso o senhor está elevando o tom de voz para mostrar seu adversário como fraco, é essa a estratégia do segundo turno?", indagou a jornalista, com ligação história com a burguesia tucana paulistana, na tentativa de taxar Boulos como extremista.
"Vera, onde talvez você e algumas pessoas vejam estridência, radicalismo...", iniciou Boulos na resposta, sendo interrompido pela jornalista: "não falei radicalismo".
Antes, Milton Jung já havia interrompido Boulos na pergunta sobre "ocupação de terra", dizendo que o psolista, que detalhou sua história no movimento por moradia e a ação se eleito na prefeitura, não respondeu a pergunta.
"Milton, veja bem, os nossos adversários usaram a campanha inteira um conjunto de mentiras contra mim, eu fui o maior alvo de ataques e mentiras durante essa campanha toda, inclusive com direito a laudo falso na véspera de eleição...", disse Boulos, sendo interrompido.
"Mas aqui não tem mentira no que lhe perguntei", retrucou Jung. "No que você me perguntou, não. Me deixe explicar", disse Boulos, sendo interrompido novamente. "Mas, você não me respondeu e está atacando o anterior já", disparou o apresentador da CBN.
"Eu vou responder. O fato do meu adversário não estar aqui já diz muito, inclusive. Eu espero que vocês pudessem ter essa mesma veemência e essas mesmas perguntas com ele. Pena que ele fugiu. Eu não fujo. Agora me dê o tempo de responder, porque vim aqui para o debate, tive o respeito com quem está nos ouvindo que ele não teve", enquadrou Boulos.
No entanto, a fúria dos jornalistas colocados pela família Marinho contra Boulos só aumentou.
Decorrido metade do tempo da entrevista, sem quaisquer perguntas sobre propostas, foi a vez de Maria Cristina Fernandes fazer uma pergunta que poderia ser creditada a qualquer expoente do bolsonarismo - ou ao próprio Jair Bolsonaro (PL) - para tentar criar constrangimento ao candidato sobre transexualidade. Lembrando que Marçal chamou Boulos de "boules" o tempo todo no primeiro turno para atacar a linguagem inclusiva.
"Eu queria saber como o senhor vê o peso do identitarismo nessa eleição e se o senhor vê isso como uma barreira para a conquista do voto evangélico?", indagou a jornalista, antes de comparar a eleição de Amanda Pascoal (PSOL), mulher trans, com a de Lucas Pavanato (PL), abertamente transfóbico.
Na resposta, Boulos sofre nova interrupção e um feroz ataque da bancada pró-Nunes da Globo.
Ao falar sobre os ataques sofridos por Lula em 2022, quando a oposição dizia que o presidente fecharia igrejas e instituiria o chamado "kit gay" nas escolas, Jung se revolta.
"Parece que a pergunta da Maria Cristina não é essa", interrompeu o apresentador. "A pergunta é como o senhor avalia esse fenômeno", classificou Jung sobre os ataques transfóbicos da ultradireita.
"Milton, eu sou candidato a prefeito, não sou comentarista de eleição. Então, se você me permitir responder da forma como acho apropriado, vou chegar na resposta. Calma", disse Boulos de forma tranquila.
"Não. Eu só lhe peço que o senhor responda à pergunta, senão o senhor vai fazer toda essa volta ai...", emendou irritado.
Na réplica - ou seria tréplica? -, Maria Cristina Fernandes disse que não se tratava de transfobia ou discurso de ódio, mas de um "fenômeno da contemporaneidade das eleições brasileiras" e que "há uma resistência de uma parcela da população crescentemente evangélica".
"Hoje há um divórcio entre essas duas questões e eu não consigo entender como isso vai ser vendido. O senhor tem dito que vai combater fake News. Isso não é fake News é dado da realidade. O vereador mais votado é um transfóbico e a vereadora mais votada da sua coligação é uma defensora aberta da pauta trans. Existe um divórcio e não está claro como vai ser abreviado", disse a jornalista, de forma confusa para não parecer... transfobia.
"Maria Cristina, o que é fake News é o que se faz em relação a isso, quando se fala em banheiro unissex, de kit gay, essa é a fake News que a transfobia usa para atacar a esquerda. É disso que estou falando", respondeu calmamente Boulos.
Em seguida, Boulos foi interrompido novamente por Vera Magalhães, que se colocou no papel de Ricardo Nunes.
"Candidato, a gente entende essa sua estratégia de não responder e mudar de assunto", disse em tom provocativo. "Já que a gente teve o respeito de manter a entrevista [NR.: como se Boulos fosse culpado pela fuga do adversário] com o candidato Ricardo Nunes faltando, vamos tentar fazer um compromisso de todos de responder as perguntas", disse, de forma inacreditável.
Mais adiante, sem perguntas sobre a cidade, Boulos expôs o conluio dos jornalistas em torno do discurso de Nunes.
"O debate que a gente precisa fazer nessa eleição é sobre São Paulo. Aliás, eu gostaria aqui de forma muito fraterna dialogando com vocês porque a gente já está com 35 minutos da sabatina. E eu vejo frequentemente uma crítica da imprensa, de colunistas, com a qual eu concordo, que a campanha no primeiro turno não discutiu a cidade. Aí, quando a gente está aqui - eu vim, meu adversário não veio para discutir a cidade -, as perguntas só veem sobre política geral, sobre o país... Vamos discutir a cidade", disse, indignado, Boulos, sendo novamente interrompido por Vera Magalhães.
"Vamos só encerrar esse capítulo porque isso certamente vai aparecer nos debates", disse Vera, em defesa de Nunes.
"Precisa aparecer nos debates na boca de meu adversário, que não veio aqui hoje. Nós estamos aqui, eu me dispus, tive o respeito com vocês de vir à sabatina, que ele não teve para discutir a cidade de São Paulo. Então vamos discutir a cidade", emendou o candidato de Lula.
Sem Marçal no segundo turno, Milton Jung, Vera Magalhães e Maria Cristina Fernandes mostraram que Boulos terá que enfrentar um batalhão de "coachs" na mídia liberal, prontos a fazer provocações e propagar fake News e discurso de ódio com o objetivo de eleger o fujão neoliberal Ricardo Nunes.
Assista e tire as próprias conclusões