O escândalo das fraudes nos cartões de vacinação de Jair Bolsonaro (PL), sua família e entorno vem ganhando novos fatos desde a manhã da última quarta-feira (3) quando a Polícia Federal realizou operação na casa do ex-presidente e prendeu uma série de pessoas do seu entorno. Uma delas, o tenente-coronel da ativa e ex-ajudante de ordens que Bolsonaro quis colocar no comando das Forças Especiais do Exército, Mauro Cid, não foi competente sequer para aparar as arestas da fraude nos cartões de vacinação dos suas filhas, deixando rastros da ilegalidade mal feita.
Cid, que está preso desde a operação da última quarta, tem três filhas com idades de 5, 14 e 18 anos atualmente. De acordo com seus cartões de vacinação – considerados fraudulentos pela PF -, elas foram vacinadas no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), mesmo local onde foram registradas as falsas vacinações de Jair Bolsonaro e sua filha Laura.
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Além disso, consta que as vacinas teriam sido aplicadas em 22 de junho, 8 de setembro e 19 de novembro de 2021. Nessas ocasiões, Mauro Cid e as três meninas teriam tomado, cada um, duas doses da Pfizer e uma da Janssen. O problema é que há inúmeras inconsistências e a fraude pode ser rapidamente descoberta acessando dados públicos sobre a campanha de vacinação que ocorria naquele momento.
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A primeira inconsistência jaz no caso da filha pequena, que estava com 4 anos naquelas datas, quando ainda não havia vacina disponível para a faixa etária. Ela não poderia ter tomado nenhuma das doses registradas.
A Anvisa só liberou as vacinas para crianças de 5 a 11 anos em 16 de dezembro de 2021, época que a filha de Cid ainda teria, no máximo, 4 anos. Ou seja, nem a suposta terceira dose poderia ter sido aplicada nela. Sid talvez não se lembre, mas a população, que queria ter suas crianças vacinadas se lembra: o governo Bolsonaro fez de tudo para não liberar as vacinas para as crianças. Inclusive, nesse meio tempo, voltaram a pipocar as teorias conspiratórias antivacina do ex-presidente. Além disso, as primeiras crianças só seriam vacinadas no país em janeiro de 2022, quando teoricamente a filha caçula de Cid já teria tomado sua terceira dose. A vacinação de crianças de 6 meses a 4 anos só seria liberada em setembro de 2022.
Já as duas filhas mais velhas de Sid, que teriam 13 e 17 anos na ocasião, realmente poderiam ter se vacinado. Em 11 de junho de 2021, ou seja, 11 dias antes da suposta primeira imunização da família de Cid, a Anvisa autorizou a aplicação da Pfizer em adolescentes a partir de 12 anos.
O erro, que aponta inconsistências também nos cartões de vacinação das adolescentes, estaria no fato de que município de Duque de Caxias só começaria a vacinar jovens dois meses após a primeira data indicada no registro, em agosto de 2021. A informação inclusive está no site da Prefeitura de Duque de Caxias. Mas Cid não se preocupou com isso na hora de inserir os dados.
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Há, ainda, mais duas inconsistências. A primeira diz respeito às doses da Janssen. Em 19 de novembro de 2021, quando a família Cid teria tomado suas terceiras doses, o imunizante só estava disponível para maiores de 18 anos. Como dito, as mais velhas ainda teriam 13 e 17 anos. Mas além disso, elas sequer estiveram em Duque de Caxias nos dias dos registros. De acordo com a PF, que fez uma varredura no WhatsApp de Cid, as filhas mais velhas estariam em Brasília nas datas indicadas.
Para a PF não resta dúvida: “a informação coletada reforça os indícios de novas inserções falsas nos registros de vacinação contra a Covid-19 no sistema SI-PNI do Ministério da Saúde (...) Nos dias 22 de junho e 8 de setembro, as mensagens trocadas entre Mauro Cid e suas filhas indicam que as meninas estavam realizando atividades cotidianas, possivelmente em Brasília onde residiam, sem qualquer referência a viagem para o Rio de Janeiro, tampouco conversas sobre imunização contra a Covid-19,” diz trecho do ofício da PF ao STF.