O delegado e deputado federal Éder Mauro (PL-PA) está em evidência desde a noite da última quarta-feira (5) quando protagonizou cenas lamentáveis na Câmara dos Deputados, como as agressões a parlamentares do PT e do Psol que podem lhe render um processo no Conselho de Ética. Mas não é apenas a atividade recente do bolsonarista no Congresso nacional que choca. Sua própria história, marcada pela violência e impunidade, parece ter saído diretamente da Idade Média, e é desalentador constatar que ao contrário das aparências, trata-se de algo bastante contemporâneo.
Éder Mauro está em seu terceiro mandato como deputado federal como um dos representantes da consolidação da presença das polícias na política institucional, movimento iniciado em São Paulo nos anos 90 e que atinge seu ápice em todo o Brasil com a ascensão do bolsonarismo.
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Desde 2015, e lá se vão quase dez anos, o bolsonarista está na Câmara. E a não ser que o processo no Conselho de Ética termine numa cassação, serão 12 anos renováveis para votar projetos que favorecem o garimpo, o latifúndio, a distribuição de armas para a população e eventuais solturas de criminosos como Chiquinho Brazão. Éder Mauro foi um dos 129 deputados que votou pela soltura de um dos homens apontados como mandantes do assassinato de Marielle Franco.
Mas sua vida além da política é pouco conhecida fora do Pará, onde há 3 décadas Éder Mauro é figurinha carimbada de programas policialescos. Atualmente expandiu sua atuação midiática como convidado de honra do mesmo tipo de programa, ora distribuídos no YouTube. Fosse na televisão ou na internet, sempre passou a impressão de ser um “policial linha de frente”. Não são poucas as vezes em que contou, em detalhes, ações à frente das forças de segurança em que executou os chamados ‘bandidos’.
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Um dos exemplos é sua participação há 2 anos no podcast “Fala Glauber”, em que relata uma operação cinematográfica contra criminosos em fazenda no arquipélago do Marajó. Na conversa ele dá detalhes da operação. Os policiais entraram em barcos pequenos por braços de rios, pois o local era de difícil acesso, e sofreram uma emboscada. Acabaram rendidos após uma troca de tiros e ficaram por dois dias em cativeiro até serem libertos. Depois disso, Éder Mauro conta o final da história: “Fomos atrás dos caras”.
Esse é um dos diversos casos violentos que Éder Mauro não se incomoda de contar em público. A aura de policial “linha de frente” é justamente aquilo que lhe garante votos para permanecer como deputado federal. E que lhe confere o foro privilegiado que afasta possíveis investigações e processos contra o parlamentar. Só na corregedoria da Polícia do Civil do Pará são 53 procedimentos que apontam para tortura, extorsão, execução e agressão. A maioria deles arquivados.
Mas alguns seguem em tramitação, parados por conta do foro privilegiado ou pelas testemunhas preferirem ficar em silêncio. O site Pará Verdade News obteve alguns documentos referentes a esse processo e a reportagem da Fórum conferiu a veracidade de alguns dos casos.
Um deles é a execução de Ayrton José de Oliveira Silva, morto com 13 tiros em 2010 durante uma operação. Outro é a injúria cometida contra a ativista Bruna Lorraine, que defende a causa PGBTQIAP+, em 2024. Além deles, Éder Mauro também responde pela tortura de três pessoas no Pará.
Segundo o site supracitado, Éder Mauro seria conhecido como um matador impiedoso, que ‘cancela CPFs’ (para usar o jargão bolsonarista) tanto de bandidos como de vítimas. Por essa razão, muitas possíveis testemunhas prefeririam fazer silêncio, o que explicaria o arquivamento de alguns dos processos contra o deputado.
Negacionismo na pandemia
Enquanto quase 700 mil brasileiros morriam asfixiados pela Covid-19, Éder Mauro, como um bom bolsonarista e político de extrema direita, praticava o negacionismo científico. Em 15 de março de 2020, a pandemia mal começava e ele usou as redes sociais para declarar que “pandemia é meu ovo”.
Bancadas do Garimpo e da Bala
Éder Mauro é defensor do garimpo e das armas. Ele já afirmou, também em sessões na Câmara, ter matado pessoas, "e não foram poucas". Também virou notícia após ofender e ameaçar deputadas de esquerda durante a pandemia e nos últimos anos votou a favor de todos os projetos que liberam armas e flexibilizam as regras para grilagem de terras.
Na última quarta-feira (5), Mauro também foi um dos responsáveis pelas agressões verbais à deputada Luiza Erundina na Comissão de Direitos Humanos. Após quase 2 horas e meia de ataques, a deputada pegou a palavra para discursar sobre um projeto relatado por ela, mas passou mal e teve que ser internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Sirio Libanês, em Brasília.
A internação repercutiu fortemente no plenário, com deputados cobrando o presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL), a tomar medidas contra as recorrentes ações violentas de aliados de Jair Bolsonaro (PL) contra parlamentares progressistas.
Erundina passou a noite no hospital acompanhada de duas assessoras. O quadro da deputada, de 89 anos, é estável e ela já conversava com amigos na noite desta quarta-feira.