Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (14), o cientista político e ex-presidente do PSOL Juliano Medeiros falou sobre os possíveis cenários para a disputa presidencial de 2026. Para ele, o campo progressista estará unificado para eleger novamente Lula (PT), enquanto a direita e a extrema direita estarão rachadas devido à prisão de Jair Bolsonaro (PL), cenário que favorece a reeleição do atual presidente.
"Eu não tenho dúvida de que nós vamos ter muita emoção, não só no nosso campo, que vai estar unificado em torno do Lula - isso não vai ser um problema para a gente - mas também do outro lado", disse Juliano. "Eles vão ter muita dificuldade de fechar uma tática, e eu acho que o mais provável é que a gente tenha um primeiro turno de unidade da esquerda, vamos levar o Lula para o segundo turno, e eles devem chegar bastante divididos no primeiro turno. Vão ter que tentar se unificar às pressas no segundo e aí está a nossa chance de vitória", analisou o cientista.
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Para o lado de Bolsonaro, Juliano afirma que a grande questão é se o bolsonarismo vai aceitar ficar com a "palhaçada" do ex-presidente de manter sua candidatura até julho de 2026. O ex-presidente do PSOL destacou que o processo de julgamento vai se arrastar por meses e, caso Bolsonaro seja condenado, a sentença deve começar a ser cumprida no final deste ano ou no começo do ano que vem.
"A direita vai sustentar 6 meses de uma pré-candidatura de um sujeito que vai estar preso? E falo isso porque no caso do presidente Lula a esquerda sustentou essa tática justamente porque era óbvio que o presidente Lula estava preso por um crime que não tinha cometido, e era óbvio que em algum momento ele ia sair da prisão para voltar a restabelecer seus direitos políticos e vencer a eleição, como venceu", pontuou Juliano.
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"Agora, será que a direita vai ter a mesma coesão? Será que a direita vai esperar pelo Bolsonaro e perder a eleição de 2026 para o presidente Lula, sustentando uma candidatura fake?", questionou.
Para o cientista político, a direita não terá esse grau de unidade e comprometimento com Bolsonaro que a esquerda teve com Lula em 2018. "No caso do Bolsonaro, eu acho muito improvável". Ele afirmou que o melhor dos cenários é uma "desagregação" da direita ao longo do primeiro semestre do ano que vem.
"Bolsonaro preso, o bolsonarismo raiz dizendo que o candidato tem que ser a Michelle, o Flávio, o Eduardo, e o resto da direita e da extrema direita dizendo: 'não, aí já é demais para gente, a gente não vai fazer de conta que está disputando a eleição' e lança um Zema, um Eduardo Leite, um outro sujeito", descreveu Juliano.
O cientista ainda acrescentou que, no momento, essa é a tática da mídia monopolista, que começa a atacar o governo Lula para criar uma terceira via que também não quer o Bolsonaro.
"É uma estratégia de parte do mercado que começa a atacar dizendo que o governo não tem responsabilidade fiscal, para a partir daí viabilizar um nome da direita tradicional como o Eduardo Leite, Zema, Caiado. Então, eu acho que no fim do dia temos uma grande chance da direita se espatifar no primeiro semestre do ano que vem em vários pedacinhos, e se unificar no segundo turno, porque aí no segundo turno eles se juntam contra o Lula", apontou Juliano.
Esquerda deve voltar a ocupar as ruas
Juliano também analisou as convocações para manifestações de bolsonaristas e do campo progressista para os próximos dias. Em contraponto aos atos deste domingo (16), em Copacabana, no Rio de Janeiro, para pedir o impeachment do presidente Lula e anistia para os golpistas, a esquerda pretende organizar um protesto para o dia 30 de março para reforçar o movimento "Sem Anistia".
Para Juliano, é muito importante que se convoque uma manifestação popular nas ruas para que a esquerda volte a tomar esse espaço, que foi tomado pela extrema direita. Ele destacou que o campo progressista passou os dois primeiros anos do governo praticamente sem movimento social nas ruas, com exceção das manifestações contra o PL 1904/2024, chamado de "PL do Estupro".
"Tirando aquele momento, a gente não teve grandes manifestações desde que o presidente Lula foi eleito. Então, é muito bom que a turma sente de novo e volte a conversar, porque nós vamos precisar de gente na rua. Se deixar a rua para a direita de novo, como já aconteceu no passado recente, a gente sabe onde isso dá", destacou Juliano.
"A gente deixou a rua para direita em 2015, em 2016, perdeu o controle da rua em 2013, embora quem tenha começado aquele movimento foi a esquerda. Toda vez que a gente sai da rua, alguém ocupa. Então, é muito bom que os movimentos sociais estejam conversando. Tem de fato um indicativo do dia 30, não sei se está confirmado, mas eu espero que se mantenha para mostrar que a gente não vai deixar a rua para extrema direita", acrescentou.
Confira a entrevista completa de Juliano Medeiros ao Fórum Onze e Meia
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