A sessão da última terça-feira (21) na Câmara Municipal de Natal, que aprovou o título de cidadão natalense ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi marcada por um episódio de transfobia contra a vereadora Thabatta Pimenta (PSOL). Durante seu discurso contra a concessão da honraria, Thabatta foi alvo de ofensas transfóbicas vindas da plateia, composta por apoiadores do ex-presidente.
Thabatta, que é mulher trans e mãe de uma criança atípica, relatou ter sido atacada com frases ofensivas como “não é mulher de verdade” e “tem dois sexos”. As agressões verbais foram registradas pela sua assessoria em vídeos que agora integram um boletim de ocorrência apresentado à Polícia Civil. O caso está sob investigação.
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“Enquanto eu falava, eles gesticulavam na minha direção. Não ouvi tudo na hora, mas minha equipe percebeu que se tratava de falas criminosas e começou a gravar”, disse a vereadora. Segundo ela, mesmo após relatar o ocorrido no plenário, nenhuma providência foi tomada. “A Guarda estava presente. A Câmara não fez nada. A delegada me disse que aquilo cabia prisão em flagrante, mas ninguém foi identificado ou detido”, contou.
Ajuda para identificação
Na quarta-feira (22), Thabatta publicou imagens das pessoas que teriam proferido os insultos e pediu ajuda da população para identificá-las. Ela também discursou novamente, desta vez denunciando a omissão da Câmara. “Essa falha na segurança não é só contra mim. Se fosse intolerância religiosa ou racismo, teria sido diferente?”, questionou.
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Nota da Câmara
A presidência da Câmara se manifestou por meio de nota, afirmando que repudia qualquer forma de discriminação e que está tomando medidas para apurar os fatos. Segundo o comunicado, estão sendo adotadas providências legais e administrativas para identificar os responsáveis pelos ataques.
Apesar da polêmica, o título a Bolsonaro foi aprovado por 19 votos a favor, cinco contrários e uma abstenção. A proposta, de autoria do vereador Subtenente Eliabe (PL), já havia sido aprovada em abril, mas a decisão foi anulada judicialmente após contestação da vereadora Samanda Alves (PT), que teve seu pedido de vistas negado na ocasião.
A nova entrega do título está prevista para o dia 12 de junho, data em que Bolsonaro deve visitar o estado. Já os títulos propostos para Michelle Bolsonaro e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foram retirados de pauta, em razão da repercussão dos ataques a Thabatta.
O caso reacende o debate sobre a violência política de gênero e identidade no país, e sobre a responsabilidade das instituições em garantir um ambiente seguro e respeitoso para todos os representantes eleitos.
Com informações da coluna de Carlos Madeiro, no UOL