O Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (18) recebeu Paulo Loiola, estrategista político e sócio-fundador do BaseLab, uma agência de marketing político com foco em lideranças e projetos do campo progressista. Ele comentou sobre a diferença de atuação entre a direita e a esquerda no ambiente digital e como algoritmo das plataformas contribui para esse cenário. Loiola discute o assunto em seu novo livro "O algoritmo do poder: como o digital reprogramou a política", que será lançado em breve.
Loiola explicou que a análise do momento da comunicação digital e da intercessão das big techs na política vai além da questão dos algoritmos, e que há um erro em associá-la diretamente ao governo e não a uma questão do campo. Loiola citou, por exemplo, o impacto da atuação de influenciadores como formas de comunicar ideologias políticas.
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O especialista ressaltou que é preciso considerar que há um conjunto de decisões humanas por trás dos algoritmos que visam gerar lucro para as plataformas, mas que de fato a extrema direita sabe utilizar melhor porque tem uma "cultura mais gerada para isso". Loiola afirmou que a extrema direita tem o interesse de "capitalizar" a relação com as big techs, o que facilita sua atuação nas plataformas e evidencia que, além da técnica, há também um direcionamento ideológico por trás. "O que a gente vê é que eles, inclusive, conseguiram capitalizar esse relacionamento e mostrar para o público deles que as big techs estão ao lado deles", disse o estrategista.
Regulamentação das redes
Loiola também falou sobre a regulamentação das redes sociais, assunto muito debatido atualmente principalmente após os ataques do bilionário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter), ao ministro Alexandre de Moraes. O Supremo Tribunal Federal (STF), inclusive, retomou o julgamento sobre a responsabilidade das plataformas sobre conteúdos postados por usuários.
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Para o estrategista, a escolha da palavra "regulamentação" é errada pois gera um impacto negativo para quem entra em contato com esse debate. Loiola explicou que na comunicação política há a questão do enquadramento da mensagem, que vai gerar efeitos sobre como determinado assunto vai atingir o público. Para ele, a discussão sobre regulamentação deveria partir do questionamento levado à sociedade se as pessoas concordam que deveria existir leis para impedir crimes que estão acontecendo nas redes. "Isso muda a ótica que você tem sobre o processo", afirmou Loiola.
Ele alertou que não se trata de uma discussão simples e tranquila, e também não acha que vai ter uma "bala de prata" da regulamentação que vai resolver todos os problemas. "Mesmo as regulamentações que estão colocadas, elas ainda são problemáticas, elas ainda deixam buracos, elas não resolvem todos os nossos problemas", disse.
"De fato, a gente está vivendo uma revolução, do meu ponto de vista, muito parecida com o que foi a invenção da prensa. A gente tem hoje o 'cidadão marqueteiro'. A gente tinha um país com 200 milhões de técnicos de futebol e agora a gente tem 200 milhões de comentadores políticos. Então, a gente fica impactado por isso", acrescentou Loiola.
O especialista ainda afirmou que hoje o Brasil é um dos países onde mais pessoas se identificam com a figura de influenciador, que é também uma grande estratégia da direita e onde a esquerda também falha, segundo Loiola.
"Muitas vezes tem gente da direita vendendo uma pauta política sem parecer que é uma pauta política. É o influenciador fitness, é a pessoa que está ali falando de viagem, falando de empreendedorismo, mas sempre com alguma linha ideológica sendo influenciada nesse sentido", declarou.
Loiola destacou que, diante disso, é preciso "tirar um pouco do peso da regulamentação como se ela fosse resolver todos os nossos problemas, inclusive como campo da esquerda".
"Não tenho dúvida que a gente precisa avançar na regulamentação, mas a gente como campo precisa também entender melhor das plataformas, precisa usar mais a inteligência artificial a nosso favor", defendeu.
Para Loiola, o sentimento "ludista" - em referência ao Ludismo, movimento que ocorreu durante a Primeira Revolução Industrial quando trabalhadores quebraram máquinas por medo de perderem seus empregos - faz a esquerda deixar de usar IA e boicotar as plataformas, abrindo mão de uma estratégia de comunicação que hoje é muito importante.
Confira a entrevista completa de Paulo Loiola ao Fórum Onze e Meiza
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