Renúncias: Casos de Bolívia, Chile e Brasil

Quem exigiu a renúncia do líder indígena não foi o povo e sim as Forças Armadas. Ao estilo Pinochet, mas sem bombardeio do palácio presidencial, para não dar na vista

Ato pede a renúncia de Piñera no Chile (Reprodução)
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Desde a noite de domingo (10), com o golpe de Estado consumado na Bolívia, a grande preocupação da direita passou a ser a de estabelecer que o acontecido no país foi uma “renúncia” de Evo Morales e não um golpe de Estado. Alguns mais cautelosos preferiram manter o silêncio sobre o que acontecia, mas os mais desavergonhados tentaram emplacar a teoria da absurda retórica de que “Evo renunciou por pressão do povo”, o que é tão coerente quanto a teoria da terra plana – o que talvez explique sua aceitação por parte de Ernesto Araújo, chanceler de Jair Bolsonaro. Quem exigiu a renúncia do líder indígena não foi o povo e sim as Forças Armadas. Ao estilo Pinochet, mas sem bombardeio do palácio presidencial, para não dar na vista. Também ameaçaram o vice-presidente Álvaro García Linera, a presidenta do Senado, Adriana Salvatierra, e diversas outras autoridades que foram forçadas a renunciar para que os golpistas pudessem assumir o controle de tudo. Não foi o povo, porque só a pressão popular não é capaz de derrubar um presidente, mesmo em tempos de comunicação massiva – ou talvez justamente por isso. Um exemplo disso é o Chile, onde existe sim um povo pedindo a renúncia do presidente Sebastián Piñera desde meados de outubro. Mas Piñera não renuncia. E é óbvio que não o faça, já que conta com o apoio das Forças Armadas, dos Estados Unidos e dos "mercados". Durante três sextas-feiras seguidas, milhões de de chilenos foram às ruas gritando em alto e bom som: “RENUNCIA PIÑERA”. No começo, o movimento era impulsado pelas injustiças do modelo econômico neoliberal. Agora, também é pelas violações sistemáticas aos direitos humanos. No Brasil, nós também sabemos que essa teoria do povo fazer o presidente renunciar é balela. Durante dois anos, o grito mais escutado em todo o país foi o de “FORA TEMER”. Não foi suficiente e o golpista transilvânico resistiu com a mesma fórmula usada atualmente pelo empresário-presidente chileno: com um forte apoio do poder militar e do poder econômico. Não entender o real peso desses diferentes fatores sobre a decisão dos presidentes é renunciar ao bom senso.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.