Das nossas esquinas borradas de vermelho

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Devemos deixar de ser tão provincianos e fazer as homenagens direito, integrais. Colocar logo os nomes internacionais dos baluartes da humanidade nas placas de esquina e nas páginas do guia. A próxima estação do metrô, por exemplo, deve se chamar Estação Adolf Hitler. É muito limitado ter Elevado Costa e Silva, ter Rodovia Raposo Tavares e Régis Bittencourt, ter TV Bandeirantes, Estação Marechal Deodoro, rua Sergio Fleury e não expandir a vista. Há horizontes mais, que nos globalizemos. Vexatória essa mania de não olhar além do umbigo. Isso ainda acaba contaminando livros, programações da tevê, balcões de bar e hábitos familiares.

Que belíssimo ficaria ‘Boulevard Rei Leopoldo’, o belga que no Congo mandava cortar as mãos dos desobedientes e de quem não pagasse os impostos, o que gozava em receber as sacas de mãos despejadas em seu salão. As avenidas alargadas que coroam o namoro entre as empreiteiras e os governos oficiais podem receber os nomes de Benito Mussolini e George Bush, vai ficar lindona a praça Pinochet.

Aqui na divisa de Diadema com São Paulo temos a escola com o nome do glorioso Filinto Muller, o xerife das catacumbas de Getúlio Vargas. Primaiada minha estudou toda lá, só eu que tive o desacerto de estudar na Escola Cacilda Becker, a atriz que com Abdias Nascimento encenou “Otelo” de Shakespeare. Pra que não haja mais riscos desses deslizes, podemos já com cerimonial chamar os coronéis que torturaram no Afeganistão, no Iraque, na Bósnia... e promover um intercâmbio aberto com os líderes contemporâneos das nossas corporações, as que mais tombam jovens no planeta, nesta guerra troncha que o país vive mas que carece de mais divulgação para compreendermos o papel(moeda) da indústria bélica em nossa proteção e paz cotidiana.

Avenida General Milton Tavares de Souza, o de quepe que engenhou o DOI-CODI, merece melhores e mais companhias. Uma estátua apenas pro Borba Gato é um acinte, outra pra Pedro Álvares Cabral também é uma merreca. Duque de Caxias, o da avenida e que dizimou gente preta e cabana de norte a sul do Brasil e do Paraguai, já sente falta de um cafuné. Então que se acenda a intuição, abrindo um sorriso pro futuro e homenageando já, enquanto vivos, os grandes faróis da limpeza contemporânea. Por gratidão que seja, o grandioso Geraldo Alckmin, governador da polícia purificadora, e o Coronel Telhada também já devem ser nome de ponte sobre qualquer abismo. O glorioso Bolsonaro já merecia mais que uma rua e sim uma cidade inteira com seu nome, mesmo que densamente povoada com todos seus eleitores e admiradores. Lá o estupro talvez já fosse doutrinado desde o berçário.

Se não tiver rua larga de três pistas ou ao menos com mão dupla, serve qualquer viela, provavelmente já pintada de vermelho pela passagem de seus discípulos em qualquer enquadro madrugueiro de quebrada. E aí já uma aposta de progresso, belo motivo pra mais um alargamento, avenida de conluio com as amigas empreiteiras. São muitas as homenagens devidas aos empresários, jornalistas, acadêmicos, padres e rabinos que bancaram a ditadura militar. Aproveitemos que ainda há vivos deles entre nós. Cada cidade e pasto tem os seus baluartes. As estações regionais de rádio também são magníficas fontes de pesquisa.

Antes que qualquer mané venha cobrar Avenida Zumbi, Ponte Zeferina, Jardim Sepé Tiarajú, Praça Aqualtuny... já pensou que balbúrdia, que vilania, uma estação de Metrô Luiz Gama?