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Por Thomas Farran
Sem surpresas, um tribunal do Egito decretou hoje o banimento da organização Irmandade Muçulmana e de sua ONG, ilegalizando assim todas as suas atividades em território egípcio.
A marginalização da Irmandade não é novidade nos seus 85 anos de história, que soube se aproveitar para crescer justamente durante os períodos em que se encontrava na mesma situação.

O primeiro banimento foi em 1948 tendo seu fundador, Hassan al-Banna, sido assassinado após uma onda de violência iniciada pela mesma.
Conseguindo voltar à cena política em 1952 após a queda da monarquia, a organização voltar a ser banida em 1954 por se opor ao caráter secular da nova constituição, e alegadamente estar envolvida em uma tentativa de assassinato de Jamal Abdul-Nasser, presidente à época.
A partir dos anos 70, a organização abdicou dos meio violentos e começou uma participação ativa na política, que desde então era tolerada a alguns níveis, apesar da continua marginalização.
Durante o tempo em que atual marginalizada, a Irmandade soube trabalhar sua popularidade, principalmente entre as populações mais carenciadas, e aquando da queda de Mubarak em 2011 era o maior e mais bem organizado grupo político, e uma vez legalizada dominou as eleições parlamentares e presidencial.
Apesar das vitórias nas eleições e de uma boa aceitação inicial, o governo da Irmandade Muçulmana, que tinha em seu candidato o eleito Mohamed Mursi, teve sua administração marcada por escândalos no campo da justiça e da economia e por controvérsias, e se viu sob enorme pressão desde Novembro do ano passado, após os escândalos dos decretos do então presidente, que anulavam o poder do Supremo Tribunal nas decisões do governo.
Após o golpe do dia de 3 de Julho, membros da Irmandade Muçulmana e associados tem sido perseguidos, mortos e censurados e logo se falava em ilegalizar a organização.
Como resultado óbvio da política violenta dos militares, logo começaram os relatos de retribuição por parte de militantes da Irmandade. Foi o impulso que as justificações e teorias de "terrorismo" de al-Sisi precisavam.
Juntamente com o banimento, foi emitida uma ordem de confiscação de todos os fundos e propriedade das organizações ligadas à Irmandade, em nome do governo interino.
Apesar da decisão inicial, advogados irão apelar e pedir  o cancelamento da pena.


Imagem: Wessam Deweny