Yes, we bomb [2]

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Por Thomas Farram

Nessa última noite começou a campanha de bombardeios aéreos por parte da coalizão formada por Arábia Saudita, Emirados, Qatar, Bahrain, Jordânia e Israel, e liderada pelos Estados Unidos - isso é o que se tem passado por uma "liga moderada" na imprensa.
Como entre os membros da coalizão fazem parte esses estados árabes, a tal operação parece gozar de uma pseudo-legitimidade que beira o kafkaesco. Pouco importa aqui se os regimes dos estados em questão são os mais fortes aliados norte-americanos na região, se são patrocinados pelo mesmo, se fazem parte da criação e manutenção do problema, se são as fontes ideológicas de tais grupos extremistas, ou se têm um longo histórico de abusos dos direitos humanos. Nada disso.
Nesse caso o que importa é o selo de aprovação desses regimes, uma espécie de autorização nativa, por mais que esses regimes sejam extremamente impopulares na região e não representem qualquer fatia significativa da opinião pública.


Então, dentro desse raciocínio, está legitimada a campanha norte-americana que consiste em violar o direito internacional sob o pretexto de que estão violando o direito internacional, e bombardear para evitar que se bombardeie - algo como feito no Iraque na última década, com resultados conhecidos.

No centro da primeira fase dessa campanha estiveram ataques contra posições do Estado Islâmico na cidade de Raqqa, também contra a Frente an-Nusra em Alepo e contra o regime de Assad na região das Colinas Golã (onde, embora não se saiba se de forma coordenada, uma aeronave síria foi abatida por Israel em espaço aéreo sírio).
Acontece que os ataques contra a Frente an-Nusra já tem trazido algum desconforto para os aliados da coalizão em solo sírio, os chamados rebeldes "moderados", uma vez que a Nusra faz parte - mesmo que informalmente - do conjunto de grupos alinhados com a tal coalizão contra o Estado Islâmico. O fato do ataque contra a posição da Nusra, no caso um prédio residencial na cidade de Alepo, ter matado também 8 civis, entre os quais 3 crianças, também deverá ter suas repercussões entre a população síria, que já se vê obrigada a escapar da violência generalizada de "moderados", extremistas e regime.
Ainda, cerca de 24 horas antes o regime de Assad, desesperado por qualquer tipo de reconhecimento, lançou também uma série de ataques ao norte do pais onde está concentrado o EI, matando mais de 40 civis, sendo 16 crianças. Esse tipo de intensificação deverá ser um padrão a partir de agora.

Não ficou claro ainda, mesmo com a afirmação do embaixador da Síria para a ONU de que houve um aviso prévio por parte de Washington horas antes dos ataques da coalizão se iniciarem, se há algum nível de coordenação entre os países. Desde o inicio da conflito, em 2011, o regime tem sido marcado pelas palavras medidas e retórica vaga, justamente para evitar antagonizações consideradas desnecessárias e correr o risco de perder qualquer chance de uma acordo futuro.

Esses fatos, juntamente com o fato de Israel ter se lançado mais uma vez na equação, deverão ser ingredientes essenciais para o aumento de insurgência no país, e até mesmo mudar alguns elementos em terreno, como por exemplo o papel desempenhado pela Nusra, o braço da al-Qa'idah no país.

Estes são apenas alguns dos motivos pelos quais toda essa operação está fadada ao fracasso desde o momento em que foi anunciada, mesmo porque ela foi desenhada para isso.

Em suma, o filme é repetido: Os Estados Unidos alegam apagar um incêndio que o mesmos ajudaram a criar, e para isso resolveram usar gasolina.