A desigualdade entre homens e mulheres precisa ser enfrentada

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Por Thaís Campolina Mulheres que trabalham fora dedicam, em média, 7,5 horas a mais por semana para afazeres domésticos do que homens no Brasil, mas não recebem reconhecimento ou mais dinheiro por isso, visto que o trabalho doméstico segue desvalorizado e invisível. O dinheiro que as mulheres conseguem é gasto geralmente quase todo (90%) com sua família, diferente dos homens que gastam 30-40% com seus dependentes. É por isso que programas de transferência de renda geralmente deixam o dinheiro da família com elas. Assim, os programas têm maior chance de atingir o objetivo de combater a desnutrição de crianças, por exemplo. As mulheres rurais têm menos acesso à terra própria e outros recursos relacionados, como insumos, sementes e tecnologia. Elas recebem menos que homens e o trabalho delas é mais precarizado. Elas estão em menos postos de trabalho assalariado que eles e há menos mulheres donas de negócios que homens na mesma posição. Em alguns países, as mulheres rurais chegam a trabalhar 12 horas a mais que os homens.  Elas representam 2/3 dos analfabetos do mundo e muitas jamais pisarão numa escola. Muitos meninos também não, mas a história de Malala nos mostra que há grupos contra a educação de meninas que usam a violência para mantê-las longe da escola. Mulheres são vítimas de violência por parte de seus companheiros e ex-companheiros. A violência doméstica é diretamente ligada ao machismo e ainda é muito naturalizada. No Brasil, por exemplo, ainda é comum que as pessoas digam "em briga de marido e mulher não se mete colher" e frases como "ela deve ter feito alguma coisa", “santa não deve ser” ou "essa aí gosta de apanhar". Apesar de termos a Lei Maria da Penha, a violência doméstica ainda é encarada apenas como um conflito familiar e não como um problema social por grande parte da sociedade. As agressões muitas vezes atingem também os filhos. A violência doméstica engloba violência física, sexual, patrimonial e psicológica. A violência patrimonial, por exemplo, se manifesta quando as mulheres não têm poder de decisão sobre como gastar a renda que é obtida por elas, por exemplo. A manifestação extrema de violência misógina é o feminicídio, que é o assassinato de mulheres por motivos ligado ao seu gênero. Ainda hoje a mídia costuma noticiar esses crimes usando frases que afirmam que eles foram cometidos por amor, ciúme ou ressaltam que o homem agiu assim por estar inconformado pelo fim do relacionamento ou pela não existência de um, o que é um desserviço porque ignora a influência do machismo e da misoginia nesse ti. Os dados sobre violência sexual no Brasil assustam. A cada 11 minutos, um estupro é registrado e suas principais vítimas (70%) são crianças e adolescentes. Como apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, é possível que a relação seja de um estupro a cada minuto. A  maior parte dos casos ocorre entre conhecidos. A cultura do estupro dá as caras quando a sociedade, e às vezes até mesmo o poder público, culpa a vítima e passa a investigar sua vida e seu comportamento. "Ela provocou" e "Quem mandou beber?" são frases ditas quando notícias de estupro se tornam manchete e nas delegacias muitas vítimas ouvem "Qual roupa você usava?" e perguntas sobre sua vida sexual quando vão denunciar. A cultura do estupro também aparece quando as pessoas fazem piada com estupro e usam o termo para falar sobre vitórias incríveis no mundo do esporte. A cultura do estupro fica evidente quando consideram uma condenação de estupro contra um jogador de futebol um problema pessoal dele.  No Brasil, vemos avançar no legislativo federal propostas que buscam criminalizar totalmente o aborto no país, apesar das péssimas consequências na vida e na saúde das mulheres da criminalização com exceções vigente atualmente. A criminalização do aborto coloca a capacidade reprodutiva feminina acima do direito à dignidade. Se a proibição do aborto alcança até mesmo os casos de gravidez fruto de estupro, como a bancada fundamentalista deseja, o crime de estupro tem sua gravidade relativizada.  Elas casam mais cedo, às vezes ainda crianças. Elas têm baixíssima participação política no Brasil e em vários outros países do mundo. Elas sofrem com mutilação genital. Elas são a maioria das vítimas do tráfico de pessoas. Seus corpos ainda são controlados pelo Estado e esse texto pode continuar por linhas e mais linhas, porque o mundo não é um lugar seguro para as mulheres. Deu para perceber que as reformas trabalhistas e previdenciárias que não pensam no trabalhador atingem as mulheres, especialmente as não brancas, de forma ainda mais cruel, né? Isso se dá por causa da feminilização da pobreza. É importante destacar que mesmo entre mulheres há populações mais vulneráveis que outras. Negras e indígenas, por exemplo, recebem menos que homens brancos, mulheres brancas e homens negros. Além disso, mulheres de determinados países são mais exploradas no mercado de trabalho que outras, vide as denúncias de exploração extrema que são feitas contra muitas indústrias de fast fashion que empregam em peso mulheres de Camboja, Bangladesh e outros países do sudeste asiático. Com tantos dados sobre a desigualdade entre homens e mulheres expostos, não dá mais para fechar os olhos. A violência contra a mulher e o machismo são problemas que precisam ser enfrentados agora.