A birra da “exceção”

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Dia desses uma imagem estava circulando no facebook, não consegui mais encontrá-la, mas lembro que se tratava de uma denúncia sobre o número de mulheres mortas na Paraíba, que é altíssimo. Uma moça revoltada comentou que os caras lá estavam sendo machos, machos de machista. Pronto, bastou para que alguém viesse dizer: peraí, cuidado com as generalizações. Mulheres sendo assassinadas brutalmente pelos seus companheiros... e o que mais incomoda essa pessoa é a generalização a respeito dos homens. Esse é um clássico quando a gente questiona questões culturais e sociais. Palavras como homens, brancos, heterossexuais, cisgêneros e classe média quando associadas a toda a opressão que, como grupos privilegiados, representam causa revolta naqueles que se consideram diferentes. Não há nada mais comum do que um discurso contra as generalizações, é como se os “bonzinhos” se sentissem oprimidos por nós que nos revoltamos com a cultura vigente e seus efeitos em nossas vidas. O que me parece é que essa “exceção” está tão preocupada em defender seu posto de diferente do outro que isso lhe soa mais importante do que os apontamentos que fazemos a respeito do mundo em geral. Ninguém está dizendo que não existem homens bons que de fato respeitam as mulheres e suas vontades. Mas o fato de existirem esses homens não impede que a cada 20 segundos uma mulher seja espancada no Brasil. Não impede que sejamos estupradas, violadas, humilhadas todos os dias pelos homens em geral. Não impede que continuemos a ser julgadas, reprimidas e destratadas pela roupa que usamos. Ser um homem “bom” é ótimo,mas o fato de você se preocupar apenas em ser reconhecido por isso não faz os homens ao seu redor bons também, ou seja, não transforma a nossa sociedade e não altera a nossa vida de maneira geral. Me parece muito mais um gosto por ser diferente do que uma consciência de fato. Quando alguém grita “mas peraí, eu não sou assim” está se orgulhando por não ser como os demais. O orgulho aqui então é justamente de ser a exceção, como uma birra adolescente de quem quer se destacar pelo que quer que seja. A ponto de me fazer pensar se a pessoa realmente deseja generalizar o comportamento positivo ou se perderia o tesão caso isso acontecesse. Eu realmente não sei.
Femstagram
O fato é que nós não vamos ficar falando das exceções porque elas simplesmente não nos interessam: Ainda temos o geral inteiro para mudar. Entenda, caro diferente, estamos aqui porque não queremos mais que você seja o diferente. Queremos que homens, brancos, héteros, cisgêneros que respeitam mulheres, negros, homossexuais, transgêneros sejam a regra.Queremos chegar no dia em que o cara dizer “ah, mas eu sou diferente dos outros homens” significa que ele é um crápula, desrespeitoso que ofende a mulher. Queremos que essa exceção da qual você tanto se orgulha não seja mais um diferencial e sim tão comum quanto andar para frente.E é isso que você deveria querer também. Se você não estupra, que tal se incomodar menos com as mulheres que falam “os homens estupram” e mais com os homens que de fato estupram. O que parece pior para você? Se você é realmente bom, por favor, foque na necessidade de transformação social geral e não na quantidade de confete que você quer ganhar por ser “bonzinho”.