A invisibilidade lésbica e a invisibilidade da violência

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A redatora do sexista e heteronormativo comercial da Marisa declarou (e depois pediu que desconsiderássemos) que ele se dirige às mulheres heterossexuais porque estas são maioria.

Além de ser uma peça terrivelmente preconceituosa em diversos aspectos, reflete um comportamento muito comum e naturalizado: agir como se mulheres não-heterossexuais não existissem. Isto ocorre em todas as esferas, inclusive em meios e mídias “gays” ou alternativos: o gay socialmente visível é o homem homossexual (e branco, jovem e de classe média).

A sexualidade das mulheres que não são heterossexuais é constantemente diminuída (mais ainda que a das mulheres heterossexuais): enquanto o homem gay “não tem salvação”, a mulher lésbica ou bissexual “ainda não encontrou um homem de verdade”, “tá tentando chamar atenção” ou “está só experimentando”. Ou, claro, “queria ser um homem”.
A nossa tão (machistamente) falada ausência de desejo sexual torna o sexo lésbico sem sentido: por que outro motivo uma mulher faria sexo, se não para agradar um homem? Como pode ser prazeroso o sexo entre duas mulheres se “falta alguma coisa”? Só podemos nos interessar por outras mulheres se tivermos tido algum “trauma com homens”, é o que nos dizem; por nenhum outro motivo abriríamos mão do privilégio da heterossexualidade.

Podemos, é claro, fingir que abrimos mão: existe, afinal, algo mais fetichizado do que o sexo lésbico? Uma fantasia mais comum do que aquela em que o homem vê duas mulheres juntas, resolve interferir e só então a experiência fica completa? A ideia de que duas mulheres juntas são um óbvio convite a um ménage à trois é, além de desrespeitosa, cansativa. E é a “menor” das violências a que estamos sujeitas: numa busca rápida no Google, encontramos inúmeros casos de lésbicas, muitas vezes casais, agredidas na rua ou dentro de casa, por desconhecidos ou pelos próprios familiares.
8ª ação lésbica de Brasília.
Tal obsessão heteronormativa chega a extremos: não são raros os casos de estupro corretivo de mulheres lésbicas e bissexuais que pretendem, como o nome diz (porque quem denomina tal prática são seus praticantes e “apoiadores”), corrigir a orientação sexual dessas mulheres, mostrar a elas o que é certo em termos de práticas sexuais e ensiná-las a não mais errar – e até tais casos de abuso e violência são invizibilizados.

Hoje, 29/08, é o Dia da Visibilidade Lésbica. Dia de lembrar, pra que não nos esqueçamos em todos os outros, que o silêncio reforça, alimenta e estimula o preconceito. Que não devemos nos deixar calar e nos fazer invisíveis.