O ódio que alimenta quem exalta torturadores

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Texto de Thaís Campolina.

Como combater a popularização de um deputado que exalta o torturador Ustra e a ditadura militar?

A gente sabe muito bem que o Brasil não puniu os agentes responsáveis pelas torturas e mortes, conhecemos vários nomes de ruas, de prédios públicos e de viadutos que homenageiam torturadores ou políticos envolvidos no golpe militar. O desarquivamento de documentos secretos da ditadura é algo recente, a comissão da Verdade e da Justiça também e a demora nesse processo essencial para se entender o que se passou na época fez com que o a população nunca discutisse de fato o que ocorreu. O fato do nosso direito à memória ter sido tão negligenciado influenciou bastante em como ainda há vestígios do pensamento anti-democrático em nossa sociedade.

Somos uma sociedade extremamente punitivista. Enquanto coletividade, acreditamos que só os ruins sofrem com a violência estatal e que ela existe para proteger o famigerado "homem de bem". As pessoas acham que só os outros, aqueles que são maus e/ou os que fogem à ordem, sofreram/sofrem com a tortura, com prisões sem crime, com agressão e desrespeito. Elas acham que são boas demais, puras demais, para um dia acontecer algo do tipo contra elas. Por isso, muitos insistem em dizer que as vítimas de Ustra "não eram inocentes" e por isso acham que o que aconteceu é justificável. Isso é ódio sim, mas também desinformação. Desinformação que a negligência com o direito à memória trouxe.

As torturas cometidas pela Ditadura Militar tinham a finalidade de calar as vozes dissonantes, deixar claro o poder que tinham e ainda hoje muitas pessoas estão desaparecidas. As mentiras que contavam dos procurados, dos desaparecidos, ainda permeiam a memória coletiva de quem viveu o período e a informação do que realmente aconteceu não chegou como deveria ter chegado. A demora, a não responsabilização dos agentes estatais, os torturadores e apoiadores da ditadura ainda nomeando coisas públicas, tudo isso prejudica a visão coletiva do que foi o período. E isso ajuda o fascismo a se fortalecer hoje, porque ele, de verdade, não foi embora.

Para combater a popularização de quem zomba de quem foi torturada, homenageia um torturador e exalta a ditadura militar, a gente precisa combater o punitivismo, a ideia de que há pessoas que merecem sofrer violência. O ódio existe, ele está firme e forte, amparado no pensamento de que os direitos humanos só protegem "vagabundo" e que a punição violenta de alguma forma contribui para a proteção da coletividade.

Ainda não entenderam que quando o Estado tem poder de torturar, perseguir, matar, todos perdem. Uns mais que os outros, por causa da vulnerabilidade desses. Mas não se engane, a coletividade inteirinha é colocada em risco. E os casos, tão recentes, de Amarildos, Cláudias, Davis Fiúzas são uma herança do que passou. E ainda hoje, a gente também vê pessoas que acham que eles fizeram algo e por isso não há problema nenhum no que aconteceu com eles. É isso que precisamos combater: a ideia de que há vidas que importam menos.

Leia também:

"Essa tortura tem que acabar"

"Negar a memória é negar os direitos humanos"

Nota do Ativismo de Sofá sobre o assunto, pode ser lida aqui.