Cultura do Estupro - Avenida Brasil e a naturalização da violência

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Aqui estou, mais uma vez, falando sobre novela. Enquanto da última vez a minha maior preocupação era a "cura gay" e a "redenção da piriguete", dessa vez o assunto é outro: Estupro. Em pouco tempo tivemos os protestos da prudence e da Nova Schin, e agora, "Avenida Brasil" naturaliza a violência.

Casamento de Ronielen
Sabíamos, como disse no outro post, que Roni e Suelen se casariam, o que de fato aconteceu: O gay e a piriguete se casaram. Em tese, o casamento seria de fachada, mas Suelen está determinada a seduzir o marido. A questão é que Roni é gay, o que a Suelen faz? Embebeda o rapaz para seduzí-lo e faz sexo com ele.

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No dia seguinte Roni acorda e fica atordoado ao perceber o que aconteceu. Ele a acusa de assédio sexual (Não, Roniquito, o nome disso é estupro de vulnerável mesmo!), diz que vai chamar a polícia que vai processá-la. A reação de Suelen? Ela ri, zomba dele, diz que ele vai ser piada no Divino. Não é à toa que tantas pessoas, homens e mulheres, quando vítimas do estupro se sentem envergonhados e até mesmo culpados. A estigmatização também é responsável pela impunidade dos agressores.

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A questão é que em tempos em que figuras nefastas como a psicóloga Marisa Lobo e o deputado Jair Bolsonaro promovem debates tentando deslegitimar a proibição do Conselho de Psicologia à chamada "cura gay", a novela exibe um gay fazendo sexo com uma mulher. A prática do sexo não-consensual para fins de cura da homossexualidade é chamada de estupro corretivo.

Estupro corretivo sendo exibido na novela de maior audiência do país, em tom de piada, além da troça que suelen faz da ameaça de processo de Roni, é mais uma manifestação da cultura do estupro naturalizando a violência. 


O pior é que essa não é a primeira cena de estupro que vi em Avenida Brasil, há alguns meses vi uma cena horripilante no núcleo do Cadinho. Um personagem detestável que era casado com duas mulheres e mantinha um relacionamento com mais uma, Alexia. E há uma cena em particular em que o estupro de fato aconteceu.


O núcleo mais chato da novela
A cena é a seguinte: Alexia já tinha terminado o relacionamento com Cadinho e estava noiva de outro homem, o Ruy. Cadinho entra na casa dela, veste o pijama do Ruy, passa o perfume do Ruy e tenta estuprá-la enquanto ela usa um tapa-olhos desses de dormir. Ao perceber que se tratava de Cadinho, Alexa tenta expulsá-lo, mas não consegue. Diante da negativa dela, ele a força a fazer sexo com ele, mas no fim, ela parece feliz. 

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Então, se ela está feliz, qual o problema disso?

O problema é que essa cena diz o seguinte: "Mulheres dizem não quando querem dizer sim". E essa é uma máxima que ajuda na manutenção da cultura do estupro. Ainda que ela quisesse fazer sexo com o Cadinho, ela disse que não. A vontade dela foi expressa e deveria ter sido respeitada. Não é não.

Imagem babaca que corre aí pelas redes sociais
Não é difícil entender o que é o estupro. Basta compreender o que significa "não consensual". Sabe aquela passada de mão na bunda da mulher? Estupro. Sabe aquele beijo forçado na boate? Estupro. Sabe quando alguém embebeda outra pessoa para conseguir ficar com ela? Estupro. Pois é, nossa legislação é bem abrangente. Estupro não é apenas aquele momento em que alguém é abordado por um estranho na rua e é forçado a fazer sexo com o agressor, estupro é muito mais que isso. E inclusive, acontece frequentemente dentro de casa, com pessoas conhecidas, muitas vezes com o próprio marido ou namorado, como no caso de Roni/Suelen e de Alexia/Cadinho.

Exibir um gay bêbado fazendo sexo hétero e um casal hétero fazendo sexo após uma negativa expressa da mulher, sem nenhuma consequência para as partes agressoras é passar uma mensagem clara de que esses comportamentos são aceitáveis. É acatar a cultura do estupro, é mantê-la, é disseminá-la.

UPDATE: Algumas pessoas estão achando que eu detesto o Cadinho porque ele está numa relação não-convencional. Muitíssimo pelo contrário, o que eu não gosto é de mentira. O Cadinho enganava as mulheres e não estava em uma relação livre, ele estava em 3 relações monogâmicas em que ele era infiel em todas. Reside aí uma grande diferença. Eu encaro as relações livres como um relacionamento onde a sinceridade é muito importante. Não é conservadorismo da minha parte. Quem quiser se informar mais sobre relações livres pode entrar no blog da Rede Relações Livres.