Dia Internacional da Mulher: "Sem vocês, nada seríamos"

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Acordei cedo hoje e ouvi ao noticiário matinal no rádio do carro. O dia começa mal. O Dia Internacional da Mulher começa muito mal. A cada crônica, a cada mulher que fazia parte do noticiário, começava a rasgação de seda. É um tal de "homens acham que são ciência, mulheres sabem que são arte" ( Jabor, Arnaldo PIG) - Marie Curie mandou beijos - OU então, elogios à essas mulheres inteligentes... Todas alinhadas com os pensamentos dos homens que as elogiavam. Inteligentes ou não, alinhadas ao pensamento deles. Enfim, elogiar, presentear com flores, tudo isso parece bom, mas não é.
Primeiro porque os elogios são direcionados às mulheres que estão dentro dos padrões pré-estabelecidos como certos pelo patriarcado: Reprodutoras, mulheres com jornada tripla, namoradas dedicadas, dependentes. A essas se atribui todos os adjetivos ditos femininos (e que são representados pela flor): docilidade, amabilidade, delicadeza, força de "caráter". Mas cadê os elogios às mulheres que subvertem a ordem? Mulheres trans, lésbicas, vadias, peludas, revoltadas, militantes, sindicalistas, abortistas, rebeldes com armas em punho? Essas se tornam invisíveis ao patriarcado, para essas não existem elogios.
Segundo porque ao final de todos esses elogios, muitas vezes vem a frase: "Sem vocês, nada seríamos". A mulher é tratada como a base para o homem, ele se suporta nela. Quem nunca ouviu aquele ditado (machista e heteronormativo) "Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher"? Esse ditado, reafirma a divisão de público e privado. Sendo que o público é o espaço masculino, o "Grande Homem" é aquele que toma parte na vida pública, enquanto a "Grande mulher" é aquela que se mantém em domínio privado, gerenciando a vida doméstica (mesmo que esta trabalhe fora de casa, a obrigação sobre as tarefas domésticas, de forma geral, ainda recai sobre as mulheres) e a própria imagem, para que o homem seja capaz de ter sucesso em sua própria vida. É a maternidade estendida a todas as mulheres (todas as que não fazem parte do grupo subversivo).
O que esse ditado não diz é que à frente de uma grande mulher sempre tem muitos desafios a serem vencidos. Toda grande mulher da história lutou bravamente contra preconceito, intolerância, desrespeito. Ser um grande homem num mundo que te oferece tudo é fácil. Ser uma grande mulher é muito mais difícil. Grandes homens são sempre reconhecidos pela história e incentivados pela sociedade. Grandes mulheres são esquecidas, apagadas da história, desestimuladas. 
Repetir que "sem vocês, nada seríamos" é uma ofensa. Não nos parabenizam por aquilo que somos, conquistamos e fazemos por nós mesmas, mas por nossa função nas vidas dos homens e pelo que fazemos por eles. As mulheres não vieram ao mundo para dar a luz aos homens, ensiná-los, cuidar deles, ser a base firme para eles. O dia das mulheres é exatamente para lembrar que as mulheres querem existir e agir no mundo com autonomia. É dia de mostrar que as mulheres podem ser muito mais do que reprodutoras, do que cuidadoras e que não precisamos de rosas, nem de elogios vazios. Não precisamos disso. O 08 de março é um dia para incomodar, fazer barulho, buscar uma sociedade mais justa, com menos desigualdades sociais (E o dia da mulher é muito relacionado à questões sociais) e de gênero.

Post escrito por Gizelli Sousa, com co-autoria de Thaís Campolina e Paula Mariá.