#ÉCapacitismoQuando: hashtag amplia debate nas redes sociais

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Por Thaís Campolina

Você sabe o que é capacitismo? Durante a semana do dia internacional da pessoa com deficiência, a hashtag #ÉCapacitismoQuando trouxe para as redes sociais exemplos práticos da discriminação que a pessoa com deficiência sofre no cotidiano e mostrou que nem sempre o preconceito vem no formato de discurso de ódio claramente identificável. Nisso, a gente percebe que o discurso capacitista se faz presente o tempo todo, inclusive no que muitos entendem como atitudes elogiosas.

Fatine Oliveira, uma das organizadoras, contou que campanhas sobre o assunto já acontecem, mas que muitas erram ao desconsiderarem a participação do público alvo, já essa iniciativa surgiu entre eles."Mila Oliveira teve a ideia de reunir pessoas com deficiência que já realizavam uma militância no meio virtual e propôs o movimento. Optamos por falar sobre capacitismo, pois este é o princípio de todo o preconceito que vivemos diariamente."

E o que é capacitismo? Fatine o entende como uma base do pensamento coletivo sobre as pessoas com deficiência a partir de uma definição de "corpos eficientes". Deste modo, toda pessoa com deficiência é vista como alguém que merece cuidados médicos e, portanto incapaz de produzir ou experimentar qualquer coisa além. Por esse motivo, estabeleceu-se o ideal de superação. Qualquer pessoa com deficiência que ultrapasse essa condição de enfermidade e realize ou conquiste coisas simples para "os saudáveis" é vista como alguém especial. Um super indivíduo que de forma extraordinária superou suas limitações.

O dia da pessoa com deficiência acontece durante os 16 dias de ativismo, campanha internacional que busca promover o debate e denunciar as diversas formas de violência contra a mulher que existem, por isso, pedi para as entrevistadas comentarem sobre as violências contra as mulheres com deficiência e assim complementar essas ações e discussões que acontecem pela proximidade com o 25 de novembro, dia internacional da luta pela eliminação da violência contra as mulheres.

Fatine destacou que para a mulher com deficiência, o capacitismo soma-se ao machismo ao estabelecer que seu corpo jamais estará em igualdade ao de uma mulher sem deficiência, a não ser que esta tenha o privilégio da semelhança. Esse tipo de opressão favorece a permanência em relacionamentos abusivos (alguns casos com violência doméstica e estupro) ou solidão/depressão.

Isadora Dias mencionou que a violência contra a mulher com deficiência se concretiza tanto pelas suas variadas formas de efetivação, quanto pela invisibilidade deste fato. A violência aqui se faz, principalmente, como: maior vulnerabilidade a abusos (físicos e psicológicos), maus tratos, falta de credibilidade em relação às denúncias feitas por essas mulheres, maior dificuldade de acesso à informação e dependência financeira, emocional, impossibilidade de autonomia para denúncia e busca por ajuda, dentre muitos outros aspectos. Há então o que Solange Ferreira, em 2013 coordenadora de Políticas de Pessoas com Deficiência da Secretaria Nacional de Promoção da Pessoa Com Deficiência, chama de dupla discriminação (de gênero e pela deficiência). E complementou com uma reflexão necessária: "Sendo assim, é alarmante pensar que para muitas pessoas dentro dos movimentos sociais e, mais especificamente, nos feminismos, em geral, a categoria da deficiência não seja considerada relevante para se pensar as opressões às quais mulheres são sujeitadas. Ficam no ar as perguntas: Mulheres com deficiência não fazem parte da categoria mulher? E se fazem, por que são apagadas das discussões? A deficiência nos faz menos dignas de tal título? Por que os vários tipos de violência sofridos por mulheres com deficiência são esquecidos?"

Patrícia Guedes acrescentou que as mulheres com deficiência ao serem vítimas de violência sexual, por exemplo, tem seus relatos postos em dúvida porque as pessoas consideram que o corpo delas não é visto socialmente como atraente ou que elas não tem uma cognição que permita a elas ter uma real dimensão do que aconteceu. Além disso, Patrícia também comentou sobre a questão reprodutiva da mulher com deficiência, enquanto mulheres sem deficiência ouvem que tem que ser mães, as com deficiência são questionadas com frases como "será que você dá conta de cuidar de um filho?" e são julgadas caso já tenham.

Além da questão da mulher, Patrícia também comentou sobre a acessibilidade e disse que as pessoas precisam lembrar que a ela não é uma questão só física, ela é uma cadeia de fatores que vão acontecendo e que tem barreiras que são sociais e atitudinais. Ou seja, garantir a acessibilidade ao edifício ou de um espaço urbano não garante a acessibilidade ao serviço. Então, por exemplo, uma mulher de cadeira de rodas pode conseguir entrar num hospital, mas não ter acesso ao atendimento ginecológico esperado por não haver uma cadeira ginecológica pronta pra ela. Até porque rampas e elevadores não resolvem a questão para quem tem outras deficiências, como ser cega, surda ou ter uma deficiência intelectual.

Fatine avaliou a campanha como gratificante por ter tido participação massiva das pessoas com deficiência, ela vê a hashtag como uma forma de levar informações para todos e acha que pode ser o início de uma grande mudança.

#ÉCapacitismoQuando fomentou uma discussão que é invisibilizada e possibitou uma reflexão coletiva sobre a falta de oportunidades e as discriminações não explícitas que atingem as pessoas com deficiência. Bons links: Evento do facebook. Podcast We Can Cast It sobre capacitismo com a Patrícia Guedes Por trás da #ÉCapacitismoQuando É capacitismo quando: não vemos pessoas com deficiência em novelas, filmes e seriados. Capacitismo: discriminação das pessoas com deficiência.

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