Eu acredito em amizade verdadeira entre mulheres

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Dia desses, fui com algumas amigas à uma festa de conotação bem feminista. Lá tiramos uma foto segurando um cartaz com o título desse post. Um dos clichês mais repetidos por aí sobre as mulheres é que não existe amizade feminina, pois as mulheres são muito competitivas, fofoqueiras e invejosas (Curiosamente, muitas das pessoas que afirmam isso também dizem que não existe amizade entre homem e mulher heterossexuais. Então mulher só pode ser amiga de homossexuais e transgêneros?). E eu não poderia discordar mais. Eu tive a sorte de conhecer os dois lados. As amizades masculinas e as femininas. E as pessoas que perduram na minha vida são quase que em totalidade mulheres.
Não quero, com isso, negar a existência de mulheres que puxam o tapete das outras. Outro dia mesmo, uma amiga reclamou que teve a sua fé no feminismo abalada por causa de um grupo de mulheres competitivas com quem ela trabalha, daquele tipo que faz jus ao estereótipo: diz que é amiga, mas disputa homem, disputa atenção e ataca a sua autoestima. Eu sei que essas pessoas existem. Houve uma mulher que puxou o meu tapete também, mas também homens que fizeram o mesmo. A gente sempre vai encontrar na vida pessoas sem caráter, sem ética. Acontece. Creditar essas atitudes apenas à um gênero é simplista, machista, castrador. Convido nosso eleitorado feminino à reflexão. Se você é uma dessas pessoas, você já parou para pensar nos motivos para fazer isso?
A natureza da amizade feminina e da masculina é a mesma. Carinho, companheirismo, empatia. A diferença está no machismo com que as mulheres são vistas e que algumas de nós internalizaram. Eu explico: desde muito cedo a competição é instigada em todas as pessoas, só que de formas diferentes para homens e mulheres. Mulheres são objetificadas pela sociedade. Precisam ser lindas, precisam ser amadas, precisam recolher as migalhas de atenção de um homem. E para isso é necessário ser melhor que as outras mulheres. Seja para se encaixar num padrão de beleza limitador, seja para estar melhor colocada em sua profissão. Homens por outro lado também são estimulados na sua competição, só que competem de outras formas. Exemplo tão estereotipado quanto o da mulher competitiva é o do homem pegador. Homens precisam pegar mulheres para reforçar sua masculinidade. Então sim, há competição entre homens também, embora ninguém fale muito disso. Os dois casos de competição são ridículos, preconceituosos e não deveriam ser encarados como padrões comportamentais. Para exemplificar melhor a questão, darei exemplos pessoais que contrariam o senso comum vigente. 
Voltando muito atrás, no tempo, a primeira amizade que aqueceu meu coração foi de uma menina. Sabe, a coisa foi tão forte, que mais ou menos vinte anos se passaram, o Pará, meu estado natal, ficou para trás e ela ainda alegra a minha vida, com as lembranças da minha infância e com sua presença ainda que virtual. 
Da infância para a adolescência, a pessoa que mais me marcou não foi quem me proporcionou primeiro amor, o primeiro beijo ou a primeira transa. Foi a melhor amiga. A pessoa com quem eu dividi todas as minhas experiências mais profundas, meus sentimentos que eu não ousava contar sequer para o travesseiro, ela sabia. Às vezes parece que ela me conhecia melhor do que eu mesma. Talvez conhecesse. Acho que muitas de nós, mulheres, teve uma melhor amiga na adolescência que pode ou não ter se mantido em nossas vidas depois desse período conturbado. Me lembro com grande carinho das madrugadas que passei em claro só conversando e rindo. E também das intermináveis horas que passei chorando ao telefone com a voz carinhosa da minha amiga do outro lado me acalentando e ao mesmo tempo compreendendo a inquietude que é amar e não ser correspondido. Da faculdade, eu mantive uma amizade em especial, que está sempre por perto, participando imensamente da minha vida, inclusive profissional (onde muitas pessoas diriam que é o ambiente mais hostil, cheio de fofoca e intriga... Só que não).
Essas três amizades, sozinhas, já destruiram qualquer resquício dessa visão machista que eu poderia ter da amizade feminina. Porque elas se mostraram o perfeito oposto. Porém eu não parei aí, encontrei abrigo num grupo de umas quarenta mulheres, que são muito diferentes entre si, mas que dividem sentimentos de solidariedade, aceitação e carinho muito fortes. Há altos e baixos, há algumas discussões, mas o sentimento está sempre presente. Esse blog é um exemplo de como a amizade feminina é real. Somos todas amigas. Eu podia ter perdido todos esses momentos maravilhosos que tive na vida se tivesse olhado para essas mulheres incríveis com a superficialidade de quem só vê falsidade nas relações femininas.
Houve também uma época em que eu estive cercada de amizades masculinas, mas uma a uma elas foram caindo com o tempo e com a incompatibilidade entre essas pessoas e eu (e não entre os gêneros), assim como também deixei no passado algumas amizades de mulheres. Algumas vezes o erro foi meu, algumas vezes não foi. Outras vezes a vida se encarregou de me afastar das pessoas mais queridas.
A partir do momento que você, mulher, diz que "mulher é sempre competitiva, fofoqueira, egoísta", você se coloca no meio. Você támbém é mulher, esqueceu? Cair nesse senso comum pode impedir você de viver experiências maravilhosas ao lado de outras mulheres. Não seja competitiva e não alimente competição. Mudar essa visão estereotipada também depende de cada uma de nós, mulheres. É preciso parar de falar por aí que todas as mulheres são assim e vamos focar nas pessoas que não são. Somente olhando para outra mulher sem erguer esse muro de desconfiança é que nos daremos a chance de conhecer melhor umas às outras.