Nudez e Ofensa

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Ontem aconteceu um protesto contra a política de censura do facebook. As imagens que, ao entender de Mark Zuckenberg e Cia LTDA, são pornográficas, logo, agridem a moral e os bons costumes, são retiradas da rede. Essa negação da nudez não é exclusividade da rede social, a reação conservadora contra os corpos nus está nas emissoras de televisão e até mesmo nas críticas de arte.


E todo mundo sabe que, desde que os Europeus aqui adentraram, nudez é um tema polêmico. Então para não causar surpresa em ninguém, deixo claro meu posicionamento desde o início do texto: Sou uma defensora. Acho que a nudez é natural e o fato das pessoas não lidarem bem com ela só demonstra que nosso corpo é propriedade alheia, não nossa. Meu sonho é viver em uma sociedade em que a nudez não choque mais ninguém (principalmente nesse país tropical, convenhamos!).


Mas independente disso, acredito que todos concordamos que nudez, pornografia e agressão visual são conceitos diferentes. O facebook resolveu censurar imagens de nu artístico e mães amamentando. Como se a nudez fosse sempre ofensiva e como se uma imagem coberta não pudesse ser. Enquanto o facebook está infestado de imagens preconceituosas e das mais diversas agressões aos nossos olhos, seios não podem aparecer porque ferem as regras da rede.


Dizem que uma imagem diz mais que mil palavras, porém a imagem só diz o que seu contexto determina. A imagem por si não fala, ela é apenas um signo, representante de algo (e Charles Peirce explica isso bem melhor do que eu). A mesma imagem em diferentes ambientes possui diferentes representações. Ela é associada a seu contexto, sua história e a cultura que se cria em torno dela, portanto não é possível estipular conceitos definitivos como o de que toda nudez é pornográfica, isso ignora o contexto da imagem e suas possibilidades.

Pois bem, pensando a partir de alguns valores básicos,o contexto e o significado dessas imagens, por favor me expliquem: De que forma uma mãe amamentando pode ser mais agressivo do que as diversas imagens de acidentes e violência, cheias de sangue, que infestam nosso facebook?


Há algum tempo a Campanha Vou de Bike resolveu fazer uma brincadeirinha (adoro só que ao contrário) publicando esta imagem que, vejam vocês ainda está aí. Ela não mostra seios, não é completamente desnuda, entretanto, colabora para a propagação de uma ideia preconceituosa e misândrica de objetificação da mulher, que mesmo em uma campanha pelo meio ambiente, precisa aparecer sexy para entretenimento masculino.


Corpos não deveriam chocar ninguém. Violência, opressão, agressão, sim. Imagens não podem ser censuradas pelo seu conteúdo imagético, mas analisadas por sua simbologia e representação, a ofensa não está na nudez em si, está no possível significado social por trás de uma imagem com ou sem roupa.

Seguimos tendo vergonha da nossa pele, enquanto valores deturpados e, sim, agressivos, não são questionados por fazerem parte do nosso histórico e de nossa cultura bárbara. A nudez é ofensiva não só porque é natural, mas também política. Nosso corpo é político e a utilização dele de maneira não objetificante, especialmente por mulheres, é contestadora demais, é rebeldia, é subversão.



Escrito por Paula Mariá, co-autoria de Gizelli Sousa e Thaís Campolina.