Orgulho lgbt*: a dor de quem ousa ser diferente.

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Arte de Maika Pires Milezzi.
 Ontem, 28 de junho, fez 43 anos desde a "rebelião de Stonewall". Esse dia foi um marco por ter sido a primeira vez que um grande grupo lgbt* resistiu à ação violenta da polícia. O fato desencadeou dois dias de protestos, e em 1º de julho de 1970, houve uma Marcha que hoje é considerada a precursora da "Parada do Orgulho LGBT".

Ontem seria o dia perfeito pra se discutir a criminalização da homofobia (e da transfobia), seria um dia pra se falar sobre a necessidade de educar a sociedade para a tolerância, poderia até ser um dia de se discutir o casamento civil homoafetivo. Mas a pauta da Câmera dos Deputados foi a "cura gay". Um retrocesso. 

Na madrugada do dia 24 de junho, dois irmãos foram confundidos com um casal homossexual e foram espancados por oito homens. Um deles morreu, o outro foi para o hospital com ferimentos sérios no rosto. Um crime chocante motivado pela homofobia. Porém, a homofobia não se expressa apenas nos assassinatos, mas no dia-a-dia, existem muitas outras violências que criam um ambiente favorável para haver a violência final, que são essas agressões e homicídios. Uma delas é colocar a homossexualidade (e também a transexualidade** e a bissexualidade) como doença, um pecado, uma subversão de valores. 

A Rússia proibiu as "Paradas de Orgulho lgbt*" pelos próximos 100 anos. Motivo que levou os ativistas lgbt* a buscarem o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para reverter essa proibição. O grupo lgbt* na Rússia não tem o direito de se manifestar nas ruas de sua capital. Direito, teoricamente, consagrado para a população heterossexual. Quem é gay, lésbica, bissexual e transexual é considerado cidadão de segunda categoria, seus direitos reconhecidos são ignorados e são desrespeitados, como se essas pessoas não fossem "dignas" o suficiente de serem parte da universalidade dos Direitos Humanos.

Talvez um dos mais importantes pontos a ser tocado é o uso do "orgulho gay" no lugar do "orgulho LGBT*". Ao falar em "gay", há uma exclusão de uma grande parcela de pessoas que também sofre preconceito pela sua orientação sexual e/ou pela sua identidade de gênero. Lésbicas, bissexuais e transexuais, ao não serem incluídos, têm seus direitos ainda mais marginalizados. Se gays são considerados um grupo de cidadãos de segunda categoria, imagine só as lésbicas, bissexuais e transexuais que nem sequer são citados em muitas notícias e na própria luta pelo reconhecimento de seus direitos.

A marginalização do grupo LGBT* invisibiliza as discriminações sofridas pelo grupo como um todo. É necessário falar que gays, lésbicas, bissexuais e transexuais não são doentes, não são loucos, nem depravados e imorais. São seres humanos que buscam uma vida plena, com acesso aos seus direitos, sem medo de morrerem por serem quem são e por amarem e/ou desejarem que quiserem.
Foto de  Gabriela Gasparotto. 

Campanha das Mulheres de Viçosa em movimento na Marcha das Vadias

Restringir os direitos desses cidadãos é impedir a plena participação deles na sociedade, é um atentado contra o próprio Estado Democrático de Direito. Afinal, a pluralidade é um componente da Democracia. O Estado, ao negligenciar a violência sofrida por esse grupo de pessoas, atenta contra seus próprios princípios e também contra os Direitos Humanos.
Não é normal impedir que um grupo de pessoas tenha acesso aos seus direitos civis, não é normal fechar os olhos a uma violência sistêmica contra esse grupo específico.

**A transexualidade ainda é considerada uma patologia. Já a homossexualidade, desde 1990, deixou de ser considerada assim pela Organização Mundial de Saúde. A discussão da Câmara foi sobre permitir tratamento para curar a homossexualidade, ou seja, "patologizar" novamente a homossexualidade.