Parem de culpar a vítima!

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Estupro é causado por misoginia, estupradores, tolerância institucional e violência estrutural.
E NÃO pelas roupas, por estar no lugar "errado", bebendo ou não "tomando cuidado suficiente".

Integrantes da banda de pagode New Hit são os acusados de estuprar duas adolescentes fãs da banda após um show na cidade de Ruy Barbosa na Bahia. O exame de corpo de delito foi feito e através dele foi constatada a existência de hematomas internos vaginais em ambas as vítimas, o que é um indício grave de que sim, elas foram vítimas de estupro.

Os detalhes do caso são terríveis: as duas jovens foram estupradas por dez homens e a sociedade, em geral, se comporta de forma machista e misógina culpando, as vítimas pelo acontecido e também ameaçando suas famílias por terem denunciado o caso. Os apoiadores dos acusados alegam que a mera ida ao show já é considerado um indício que elas estavam "pedindo"; afinal, para essas pessoas, mulheres que saem de casa à noite não são dignas de respeito. Outros dizem que elas entraram no ônibus porque quiseram e isso seria mais um indício que elas estavam "provocando, pedindo, buscando" o que veio acontecer.

Há quem diga que elas forjaram o estupro, mas como então elas forjaram os hematomas que constaram no exame de corpo de delito? Há quem diga que elas são "umas vadias", deram muito e agora denunciaram o estupro porque a banda teria dinheiro. Para essas pessoas, eu informo: quando uma pessoa é condenada por estupro, ela não fica obrigada a pagar "muito dinheiro" pra vítima; por mais que vocês achem que estupro é um "problema menor" ou até mesmo uma forma de ganhar direito em cima dos outros; saiba que se ele está previsto na lei penal, quer dizer que essa conduta criminosa é relevante para o Direito e que essas pessoas devem ser punidas, pelo bem da coletividade. Há quem diga que eles não precisam estuprar ninguém, afinal, eles poderiam ficar com quem quiserem naquele show. Para essas pessoas, eu digo, estupro não é sexo. 
Marcha das Vadias de BH - 2011 - Acervo Pessoal

Mais uma vez a sociedade nos mostra sua cara misógina e machista e a gente destaca, novamente, que a culpa de um estupro é do estuprador, jamais da vítima. Não se evita estupros não permitindo que mulheres saiam de casa; não se evita estupros cobrindo o corpo das mulheres com determinadas vestimentas; não se evita estupros culpando as vítimas pela violência sexual sofrida.

É necessário deixar claro mais uma vez que se uma mulher estiver nua e desmaiada de bêbada numa cama, NINGUÉM TEM PERMISSÃO de tocá-la; afinal, ela não tem possibilidade de consentir com o ato. Se uma mulher beija um homem, ele não tem direito de tocá-la onde ela não permitir, ele não tem direito de supor que um beijo é consentimento para qualquer ato sexual que seja. Há diversos exemplos a serem dados mas, neste caso, é bom deixar claro que uma mulher de noite num show não "tá pedindo", uma mulher que entra num carro, na casa, ou num ônibus de um cara não "tá pedindo". Não existe "estar pedindo" por um estupro, porque o que determina se um estupro aconteceu é a ausência de consentimento. Se não há consentimento é estupro. Simples, né?

Roupa, comportamento sexual, a hora e o lugar onde a vítima do estupro se encontrava não a faz menos vítima. Dizer que essas garotas são vadias e mereceram é endossar ainda mais a cultura do estupro, é contribuir para que vários criminosos continuem impunes. Organizar uma marcha em defesa dos acusados não é possibilitar o acesso ao contraditório e ampla defesa numa ação penal, é simplesmente ignorar que essas pessoas podem ter cometido crimes, é banalizar todas as formas de violência contra mulher. Duvidar, dessa forma, de uma acusação de estupro, é dizer que o corpo das mulheres é disponível, pode ser violado se ela não se comportar conforme parcela da sociedade diz que é certo. A marcha que está sendo organizada pelos fãs da banda zomba da Marcha das Vadias, zomba das diversas vítimas de crimes que violam a dignidade sexual das pessoas, zomba também da própria ideia de um mundo menos violento e menos machista.

O caso deixa claro como denunciar um estupro não é uma decisão fácil e como a vítima daquela violência e todos que estão próximos sofrem com os julgamentos machistas que são destinados pra quem tem coragem de não se calar.

Ato em apoio às vítimas, aqui