Violência online é uma forma de silenciamento

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Texto de Thaís Campolina [caption id="attachment_880" align="aligncenter" width="300"]"As garotas não decidem simplesmente odiarem os seus corpos, nós as ensinamos a odiá-los" "As garotas não decidem simplesmente odiarem os seus corpos, nós as ensinamos a odiá-los"[/caption]

Nos últimos anos, a internet se tornou uma ferramenta muito utilizada para difundir ideais de direitos humanos. Por ser um espaço onde qualquer um com um computador, internet, tempo e vontade pode escrever, a gente viu crescer o número de mulheres falando sobre suas histórias, suas ideias e suas experiências. Isso fez com que a gente passasse a ler não só colunas e matérias de grandes jornais, mas também textos escritos por pessoas "comuns". Manifestações foram combinadas assim, hashtags foram utilizadas como forma de protesto e o debate sobre questões como o genocídio da juventude negra, cultura do estupro e lgbtfobia nas redes sociais se ampliou e trouxe à tona a importância de se discutir sobre isso. Mas nem tudo são flores, enquanto muitos utilizam o ambiente virtual e as redes sociais para lutar por um mundo melhor, outros se agrupam para atacar mulheres, principalmente aquelas que fogem do padrão.

Podemos citar, como vítimas dessas agressões virtuais, nomes de ativistas como Anita Sarkeesian, Stephanie Ribeiro, Lola Aronovich e também Jéssica Ipólito. O que todas elas tem em comum? São mulheres e são feministas. Mas não só ativistas são vítimas de tais ataques, a jornalista Maju Coutinho e as atrizes Taís Araújo, Sheron Menezzes e Cris Vianna também tiveram seus perfis nas redes sociais atacados por um grupo de pessoas que postavam ofensas racistas e machistas contra elas. Sem esquecer os numerosos ataques contra mulheres que tiveram seus vídeos e fotos expostos na internet sem o seu consentimento.

Jéssica Ipólito escreve textos incríveis sobre ser mulher, negra, gorda e lésbica em nossa sociedade e posta fotos dela na internet. Sua militância empodera mulheres por mostrar que o espaço público também é lugar pra se mostrar e se sentir bem a respeito de si. Suas fotos e seus textos dizem "nem minha sexualidade, nem o meu corpo e nem meu cabelo é vergonhoso, eu posso me mostrar, eu posso me amar sendo eu mesma" e isso é revolucionário. É resistência. E como disse a Gizelli Sousa, no texto em que ela escreveu em solidariedade a Jéssica, a mera existência de mulheres como ela é subversiva e é por a Jéssica ser quem ela é e não se envergonhar, que essas pessoas se uniram para atacá-la mais uma vez.

Para alguns, o corpo, a cor da pele, o cabelo afro pintado de roxo, as roupas, a segurança e o amor-próprio justificam o ódio. E a gente precisa falar sobre isso. As redes sociais precisam se preparar para lidar com esses ataques, cada vez mais comuns. Elas precisam melhorar suas ferramentas de denúncia, aprimorar a política com postagens preconceituosas e preparar melhor quem avalia tais denúncias. A justiça e o direito precisam ver a gravidade de tais ataques e tratar os crimes virtuais com mais seriedade: A hostilidade que vimos nesses investidas afeta a saúde das vítimas, além de perpetuar a discriminação e exclusão e isso precisa parar.

Tratar esses ataques como uma bobagem ou como algo engraçado é ignorar o que eles querem dizer politicamente. Tal assédio moral é uma amostra do ódio contra quem se manifesta, com quem resiste, eles dizem "você não tem o direito de pertencer, você só tem que esconder". É uma forma de silenciamento e desumanização. Enquanto eles mostram o que querem com suas ofensas racistas, misóginas e gordofóbicas, nós dizemos que apoiamos essas mulheres e que queremos uma internet mais empática e justa.

Jéssica, o Ativismo de Sofá te apoia.

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