Desculpa Perguntar

Escrito en BLOGS el
Por Allan da Rosa
[caption id="attachment_99" align="alignleft" width="300"] (Imagem: Divulgação)[/caption] Já sentiu desespero, mano? Aquele do mergulhado em águas claras Quando veio o redemoinho? Aquele salvo pelo braço que avisou do buraco.. Unhas seguras na saliência da rocha. Agradecidas de frio e de medo. Pequenez e grandeza no fiapo do seu nome.   Já sentiu humilhação, rei? A que trouxe na cangaia as caixas de fruta que num podia mexer nem em uma baga Do chegado na feira e escorraçado Nos berros, cuspido pra fora Depois do almoço vazio Quando perguntou se ia receber sua paga   Já foi cabeçalho da notícia da chacota, camará? Ao rasgarem seu vestido com a bença e os aplausos da covardia?   Se encharcou na chuva ácida da vergonha? Sintonizou a rádio do desprezo, Chiadinha, o dia inteiro da voz de teu pai?   Já sentiu paixão, Ganga? Das de pintar a chuva? De errar cada flechada de palha usando arco de papel molhado? E ela passou no vento... Mesmo vento que ardia no pus Toda tardinha?   Já perdeu batalha, Mestre? Depois que bebeu a vitória, no cálice da arrogância a sua golada. E com o nariz entupido no arreio Nao conseguia traduzir, farejar o que fosse futuro?   Já apertou a mão da hipocrisia, Don? Suja de perfume... Já ganhou na bochecha O lábio farofado de quem jura de morte sussurrando na casa vizinha? De quem envenena a sobremesa por cima do muro, Dá gamela em mal querença de doce pro teu filho e declara a temporada de estupro a quem coloca no dedo e no pescoço o anel branco de simpatia?   Já cozinhou na panela da saudade? Costurou o calendário Pôs no forno a massa lacrimejada e comeu o pão o miolo da decepção Quando a andorinha voltou mascarada de pavão?