Para não dizer que eu não falei das flores...

Escrito en BLOGS el

Meio bairro é feio, medonho como já mostrei várias vezes por aqui: neste, neste, neste, neste, neste e neste posts.

É horrível e excludente porque, em grande parte, o poder público aqui está ausente até mesmo na limpeza pública.

Quando vivemos rodeados de feiúra e descaso nossos olhos precisam de alguma beleza concreta, paupável. No pouco espaço que tenho em casa e para desgosto da minha vizinha que odeia plantas, tentei me cercar de um pouquinho de verde. Esta é a cor que mais sinto falta na feia e cinzenta Sampa das periferias.

Procurei preservar um pouquinho do colorido das flores no meu pequeno universo privado e garantir meu quinhão de beleza.

Acho que não foi à toa que há cerca de 5 anos, no dia do meu aniversário, comecei este blog despretensioso com fotos do meu terraço: aqui, aqui.

Aqui tenho vasos espalhados por tudo quanto é espaço livre, pendurados nas paredes, tenho até jabuticabeira como você pode ver aqui, aqui.

De todas as plantinhas que cultivo, as minhas prediletas são as flores de maio.  E como seu nome popular garante, é em maio que elas florescem, ao menos por aqui.

Perdi a florada do primeiro vasinho, fiquei tão encantada que esqueci de fotografá-la. As fotos a seguir são do segundo vaso e o terceiro está cheio de brotos. Compartilho com vocês um pouquinho da minha beleza particular, expressa nos meus vasos salvadores. P1040159 P1040156 P1040157 P1040158

Escrevendo este post me dei conta de como esses pequenos objetos com terra e vida são fundamentais para manter minha sanidade. Lembrei que cheguei até a escrever um poema, em 2002, olhando para um deles:

Vaso de especiarias

Busco essência dentro de mim e nas coisas aprendidas. Minhas retinas afoitas desejam, do pinheiro plantado no natal, algo mais que folhas secas.

Procuro aquilo que vingue, vitorioso, esse tédio viciado de morte, desesperança, costumeiro.

Persigo algo que alcance o cheiro do vaso de especiarias das sete ervas pra afugentar maus espíritos.

Meu pequeno vaso lírico: uma espada de São Jorge mirrada, pimenta malagueta, rubra, ardida, alecrim, manjericão perfumados, guiné ousada, espichando tentáculos, arruda morta, encoberta por folhas largas, esbranquiçadas, ladras de luz.

Minha vida se reduz a buscar o Sol todos os dias, lutar contra a sina arruda:

Sorrir e girar feito um girassol feliz