Eduardo Campos o traíra da vez?

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Por sugestão de Julio Cesar Macedo Amorim reproduzo (sob protestos devido a fonte onde foi publicada a matéria) o texto de André Singer. Mas não sem antes traçar minha humilde opinião a respeito da bola da vez: Eduardo Campos sair da base do governo de coalização encabeçado pelo PT e concorrer à presidência.

Primeiro é preciso fazer um esclarecimento: que base? Porque esta que Dilma tem é mais um bando de gangsteres que só apronta e queima o seu  filme  tornando a presidenta mais reacionária e antipática à luz dos movimentos sociais, da esquerda, dos militantes de seu próprio partido, esta base é pura chantagem de ruralistas, fundamentalistas e oportunistas que  só vive dando rasteira nos momentos em que ela mais precisa.

De todo modo acho que Eduardo Campos não vai trair Lula (Dilma ele dá facadas pelas costas com gosto) porque se se voltar contra Lula se arrependerá amargamente e porque grande parte de seu sucesso em Pernambuco ele tem de dividir os louros com o ex-presidente.

Não colocará o carro na frente dos bois, nordeste é uma base eleitoral pequena perto do Sudeste e aqui ele tem de disputar espaço com Aécio; com os tucanos serristas, e ainda com a rede itaú, ops! natura, ops! ecocapitalista de Marina que agrada da zona Sul do Rio aos jardins de SP. É muito bico pra poucos aliados.

Nas bases em que o sistema político brasileiro se encontra o socialismo moreno de Eduardo Campos minguaria fácil, fácil porque precisaria de aliança com a direita como fez o PT em seus governos de coalização e aí seu novo papo 'estou do lado dos sindicatos e das centrais contra as privatizações' dançaria sem mesmo a música começar.

Enfim, acompanhemos.

PS. Paulo Henrique tem outra opinião, aqui: EDUARDO SE FAZ CANDIDATO PARA EMPRESÁRIOS DE SP: Ele fala mal da Dilma, do Lula e da Petrobrás. E está mais para Bláblárino que para Aécio

Base governista?

Por: André Singer, na Folha Ditabranda

16/03/2013

Fosse a política brasileira menos acomodatícia, a reforma ministerial em gestação implicaria a retirada dos cargos entregues ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), que a esta altura, aliás, nada mais tem de socialista afora o nome. Os últimos gestos do presidente da sigla, Eduardo Campos, indicam a intenção de criar, sempre que pode, embaraços ao governo federal, que supostamente apoia.

Há 15 dias, o governador de Pernambuco estabeleceu uma surpreendente aliança com Paulo Pereira da Silva, o principal dirigente da Força Sindical, para barrar a privatizante MP (595) dos portos. Em seguida, na quarta passada, liderou 16 governadores em uma proposta de onerar a União em R$ 4,5 bilhões para resolver o problema criado com a derrubada no Congresso do veto presidencial sobre a divisão dos royalties do petróleo.

Campos vem sendo procurado por descontentes, à direita e à esquerda, com a presidente Dilma Rousseff. De empresários do agronegócio a representantes da estiva, passando por candidatos à presidência da Câmara, é extensa a romaria dos que viajam a Recife. A todos o neto de Arraes acolhe com magnânima boa vontade, mesmo que nada tenham a ver com a sua plataforma modernizante de eficiência gerencial.

O caso dos portos é exemplar. O mais coerente para quem defende o uso de métodos empresariais na gestão pública seria apoiar a medida privatizante. Mas Eduardo decidiu secundar o movimento dos trabalhadores, que têm nova greve marcada em uma semana com o objetivo de barrar o que consideram a privatização do setor. Para o cúmulo da ironia, o ministro encarregado da Secretaria de Portos é do PSB.

O objetivo evidente do jovem político nordestino é ampliar as bases para uma postulação presidencial de centro, provavelmente já no ano que vem. Portador de altíssima aprovação em seu Estado, ainda é pouco conhecido no resto do Brasil. Mesmo depois do bom desempenho do partido nas eleições municipais de 2012, Campos tinha apenas 3% das intenções de voto no país. Por isso, precisa aparecer.

A disputa de 2014 será difícil para um candidato fora das grandes agremiações (PT e PSDB), considerando-se que Marina Silva também correrá pelo meio. Com pouco tempo de TV, Campos terá baixo poder de fogo. O seu trunfo é o suporte que recebe dos que querem desgastar Dilma, o que pode crescer caso a situação econômica patine. O mesmo explica, por sinal, a hesitação do PSD, de Kassab, em aderir à recandidatura da presidente.

O governo parece alimentar a ilusão de que pode recuperar a lealdade de Campos mais à frente. A lógica indica, entretanto, que só a terá se e quando não precisar mais dela.

ANDRÉ SINGER escreve aos sábados nesta coluna, e-mail: [email protected]