Pedro Silva Barros: Ipea na Venezuela: política de Estado

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Por Felippe Ramos, em seu Facebook

O pesquisador do IPEA, Felippe Ramos em Missão na Venezuela, com Caracas ao fundo.

O jornal Folha de São Paulo concedeu espaço para o economista Pedro Barros, titular da Missão do Ipea na Venezuela, informar à sociedade brasileira a função e as atividades do Instituto no país vizinho. Sou um dos pesquisadores da Missão.

O artigo é uma resposta ao ataque do jornalista Fabiano Maissonave, publicado no dia 10/04, que desinformava os leitores. Uma das "acusações" é que o Ipea na Venezuela "prioriza projetos de integração com o Brasil". Ora, além de objetivo constitucional da República, a integração com os vizinhos latino-americanos é política de estado levada a cabo pela politica externa brasileira. No caso específico da Venezuela, desde 1994, com o protocolo de La Guzmania, há uma aproximação bilateral contínua, aprofundada pela política sul-americanista do governo Lula. Como resultado dessa aproximação, Roraima - estado esquecido pela grande mídia - recebe energia elétrica do país vizinho pela linha de Guri. Por isso o Ipea na Venezuela prioriza também o desenvolvimento da área de fronteira, setor estratégico.

Para Fabiano Maissonave, o Ipea na Venezuela deveria funcionar como agência classificadora de risco, um tipo de Standard & Poor's ou Moody's, para avaliar ciclos econômicos de curto prazo, como os atuais desajustes da economia do país vizinho. O próprio quadro jurídico que permite ao Ipea atuar em um país estrangeiro - na forma de cooperação bilateral - implica em ajudar o governo desse país. Cooperar é isso: trabalhar juntos. É estratégico para o Brasil que a conjuntura econômica atual da Venezuela seja superada com nossa ajuda, dado que temos US$ 5 bilhões em superávit na balança comercial bilateral e o país está entre nossos três principais sócios comerciais. Por isso há estudos do Ipea na Venezuela também sobre integração produtiva, infraestrutura e logística. Para o jornalista que assina a matéria, contudo, não tem jeito: isso não é "economia"; economia, em seu entendimento, é apenas "inflação e câmbio".

A matéria do jornal contra o Ipea na Venezuela serviu de pauta para políticos do PSDB, em campanha eleitoral. A ação estratégica das instituições brasileiras no exterior deve estar além dos interesses políticos mais imediatos. O Ipea na Venezuela é uma política de estado.

Vale a pena ler a resposta abaixo e compreender como o Brasil tem trabalhado para garantir o êxito da política externa, de estado, principalmente em relação a países estratégicos. _____________

Por: Pedro Silva Barros, no jornal da Ditabranda, via Facebook Ipea na Venezuela: política de Estado Nossos produtos subsidiam as políticas públicas nos dois países. O Plano de Fronteira de Roraima de 2012 cita oito estudos do instituto A ascensão do Brasil a potência emergente tem ampliado a internacionalização de instituições públicas que complementam e fortalecem a diplomacia. A América do Sul é nosso entorno geoestratégico convertido em prioridade. A ida do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) à Venezuela é consequência dessa política de Estado. Desde 2010, o Ipea na Venezuela desenvolve cooperação bilateral orientada por acordos firmados em encontros presidenciais. Forma e capacita em políticas públicas, planejamento e integração regional e realiza pesquisas econômicas relacionadas à integração produtiva, infraestrutura e desenvolvimento da área de fronteira. Temos 1.492 km de fronteira com o país que detém as maiores reservas de petróleo do mundo. Desde 2007, a Venezuela está entre nossos três principais superávits comerciais e em 2012 ingressou no Mercosul como membro pleno. Regiões estratégicas são estudadas pelos principais países. China e Japão mantêm pesquisadores em tempo integral na Venezuela para dar suporte a suas ações de política externa. Levar o Ipea à Venezuela foi uma decisão de Estado, anunciada por Lula, que reforça a aproximação bilateral definida no Protocolo de La Guzmania, de 1994. Os resultados do trabalho foram diversas vezes avaliados e reconhecidos pela presidente Dilma Rousseff e seus colegas venezuelanos, Hugo Chávez (1954-2013) e Nicolás Maduro. Nossos produtos subsidiam as políticas públicas nos dois países. Por exemplo, o Plano de Fronteira de Roraima de 2012 do governo Anchieta Júnior (PSDB) cita oito estudos do Ipea e de seu escritório em Caracas e propõe que as pesquisas sejam aprofundadas. Foi estranha, portanto, a reportagem publicada pela <b>Folha</b> ("Mundo", 10/4) que afirmou que nenhum estudo sobre a economia venezuelana havia sido feito pelo escritório do Ipea e acusou o instituto de realizar uma política menor, restrita a apoiar o governo vizinho. Contradisse a própria <b>Folha</b>, que havia noticiado pesquisas do Ipea na Venezuela sobre petroquímica e coque ("Mundo", 29/7/2012). Ignorou tanto o conteúdo principal das mais de mil páginas de estudos enviados à reportagem, como o inédito sobre a interconexão fluvial entre os rios Amazonas e Orinoco e como os cursos oferecidos para funcionários públicos venezuelanos e do Norte do Brasil, independentemente de suas colorações partidárias. Também forneceu argumentos para outros veículos da grande imprensa e políticos atacarem o Ipea. Foi fulminante. No mesmo dia da publicação, antes das 7h, o blog mais acessado da revista "Veja" usou a reportagem para me desqualificar pessoalmente de forma vil. Horas depois, o deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG) dizia-se perplexo, afirmando que o trabalho do Ipea na Venezuela depunha contra a credibilidade do país. Editorial da revista "Época" me acusou de "proselitismo político". Em sua coluna semanal na <b>Folha</b>, em tom de campanha, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) dizia-se surpreso porque o Ipea tinha um escritório em Caracas. Provavelmente, os políticos mineiros não haviam conversado com seus colegas do Norte do Brasil, que recebem pouquíssima cobertura jornalística no Centro-Sul do país. As atividades na Venezuela foram aprovadas e prorrogadas por três presidentes do Ipea e três ministros da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, de diferentes orientações. Sou funcionário de carreira do instituto, no qual ingressei por concurso público. Fui designado para exercer missão na Venezuela após processo interno de seleção aberto a todos os funcionários. Servir ao Brasil na Venezuela parece incomodar muita gente, mas isso não seria motivo suficiente para o ataque. Ele só ocorreu porque ousei criticar a má cobertura que a imprensa brasileira faz do país vizinho e divulgar pontos positivos das políticas públicas venezuelanas deliberadamente ignorados no Brasil. *PEDRO SILVA BARROS, 34, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é titular da missão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) na Venezuela