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Acabo de pescar no site do Geledes essa matéria que segue e que teria sido publicada originalmente na Tribuna da Imprensa. Um promotor do estande da Abril, segundo a reportagem, teria dito a duas garotas de escola pública que não daria senha a elas porque não gostava de mulheres negras do cabelo duro.
É um absurdo que este tipo de coisa ainda aconteça no Brasil. Mas não me surpreende que o caso envolva a Editora Abril. A posição da sua maior revista é tão grotesca nesse debate que envolve a questão racial, que o promotor talvez tenha achado que ao falar aquilo agia em nome da opinião da empresa.
Se você acha que estou exagerando ao falar da posição da Abril neste tema, assista a esta entrevista feita por Augusto Nunes, articulista e blogueiro de Veja. Não atente apenas para as respostas bizarras do autor do livro Guia do Politicamente Incorreto da História do Brasil (que é uma bobagem sem tamanho), mas preste atenção para os comentários e perguntas de Augusto Nunes.
Segue a matéria:
Alunos da Escola Estadual Guilherme Briggs, em Santa Rosa, Zona Sul de Niterói, sentiram na pele, na tarde da última segunda-feira, a dor do preconceito racial, que supostamente para muitos não ocorreria mais em nosso país, muito menos nas dependências de uma feira literária, onde nossa cultura é expressada das mais variadas formas, nas páginas publicadas por inúmeras editoras. Preconceito e injúria racial são crimes passíveis de prisão, no artigo 9º da Lei 7716/89.
De acordo com a diretora da escola, Alcinéia de Souza, o fato entristeceu e chocou os alunos da unidade, uma das mais conhecidas do município, foi registrado ontem da Delegacia Legal de Icaraí (77ª DP), e formalmente encaminhado à Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos.
De acordo com a diretora do estabelecimento de ensino, na tarde de segunda-feira ela levou um grupo de 45 alunos que cursam o Ensino Médio da escola até a Bienal do Livro 2011, que se realiza no pavilhão do Riocentro, na Zona Oeste do Rio. No local, entusiasmados os alunos, com idades entre 15 e 17 anos, se espalharam para apreciar os vários estandes. Segundo os alunos e a diretora, num deles da Editora Abril ocorria uma promoção, onde eram distribuídos uma espécie de senha para que os jovens prestigiassem a tarde de autógrafos do ator e apresentador Rodrigo Faro. Entusiasmadas, duas alunas do colégio, de 16 e 17 anos, se dirigiram até um dos promotores, inicialmente identificado apenas como "Pedro" ou "Roger" - no intuito de conseguir uma das senhas. Do promotor as alunas ouviram (incrédulas) insultos do tipo: "Não vamos dar a senha porque vocês são pretas do cabelo duro", e também "não gosto de mulheres negras, por isso não darei senhas para vocês". Segundo uma das alunas, indignada com a ofensa ainda tentou argumentar com o promotor - "isso é um tipo de bullying, e pode te trazer problemas". Com resposta o promotor rebateu, afirmando que isso não daria problema nenhum para ele".
Como o grupo estava espalhado pelo pavilhão de exposições, a diretora da escola afirmou que só tomou conhecimento do fato quando os alunos já estavam deixando o evento. Revoltada, Alcinéia retornou ao estende da Editora Abril, à procura do responsável pela representação da empresa, que de acordo com ela pediu-lhe desculpas (omitindo a identificação do promotor) e alegando que tomaria providências. "Sentindo-se humilhada, uma das alunas disse que sequer conseguiu dormir de segunda para terça-feira", explicou Alcinéia, que no início da tarde de ontem, acompanhada dos alunos, pais, e de um advogado (que também é professor da unidade), José Carlos de Araújo, registrou queixa de crime de Injúria e Preconceito Racial na 77ª DP. A distrital encaminhou o procedimento para a Delegacia Legal do Recreio dos Bandeirantes (42ª DP).
"Ensinamos os princípios da cidadania para os alunos, explicando inclusive que independe de quem sejam, e agora ele passam por uma experiência terrível dessas ? Os alunos da escola estão chocados com o que aconteceu. Fiz questão de comparecer junto com os pais desses estudantes na DP para relatar esse triste fato. Esses estudantes são como filhos pra mim", disse Alcinéia. "Em pleno século XXI isso ainda acontece em nosso país. Esse fato não se esgota na esfera criminal. Não desejamos isso para nosso país", disse José Carlos de Araujo, que junto com a diretora, os alunos, e com a cópia do registro levou também ontem o fato ao conhecimento da Secretaria Estadual de Assistência Social de Direitos Humanos para que providências sejam tomadas.
Representantes da Editora Abril não retornaram as ligações da redação.
Fonte: A Tribuna RJ