Sem Lula na disputa ou centro-esquerda se une ou fica fora do segundo turno

Se Lula não puder ser candidato a presidente da República o maior desastre para o seu legado e para a sua condição pessoal é não ter um candidato que represente seu projeto político no segundo turno

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Há algum tempo já venho afirmando neste espaço que se o ex-presidente Lula pudesse disputar as eleições presidenciais seria interessante que outros partidos de esquerda e centro-esquerda lançassem outros nomes. Isso tanto ajudaria a melhorar o debate eleitoral como permitiria que novas lideranças pudessem ficar mais conhecidas nacionalmente para os embates futuros. Ao mesmo tempo, também tem se afirmado aqui que sem Lula a coisa seria diferente. Ou se cria uma frente política para defender a democracia, o patrimônio pública nacional e os direitos dos trabalhadores ou vai se chegar em outubro com um segundo turno entre a direita e a centro direita. O Datafolha de hoje torna isso ainda mais claro. Mesmo Ciro Gomes, que já foi candidato a presidência da República e é o nome mais nacionalizado entre os candidatos progressistas, não chega a dois dígitos sem Lula candidato. Seu melhor número é 9%. Joaquim Barbosa, a quem não se pode chamar exatamente de um candidato de centro-esquerda, é o que vai mais longe, com 10%. É verdade que sem Lula na disputa. o líder das pesquisas é Bolsonaro com apenas 17%. E a segunda é Marina com 15%. Ou seja, a eleição fica completamente aberta. A questão é que entre os candidatos mais próximos ao lulismo, Manoela, Boulos, Haddad ou Jacques Wagner, a mais bem colocada num dos cenários é Manuela, com míseros 3%. Por outro lado, 30% dos eleitores brasileiros tem intenção de votar num candidato indicado por Lula. Ou seja, se os partidos progressistas sentarem pra conversar e organizarem um projeto comum, escolhendo um desses nomes pra representá-lo nas urnas, este candidato não só vai ao segundo turno, como pode ir em primeiro. O PT está agindo com a lealdade que o ex-presidente merece quando não antecipa este debate. Insistir com a candidatura de Lula é necessário, inclusive, para denunciar ao mundo a injustiça de sua prisão. Mas ao mesmo tempo é preciso criar urgentemente discutir as eleições numa frente ampla pela democracia. E esta frente poderia e deveria incluir, inclusive, o PSB e o PDT. Não é inteligente ter Ciro Gomes como adversário e nem o PSB, que pode ou não lançar Joaquim Barbosa. O PSB, por exemplo, tem um candidato muito forte ao governo de São Paulo, o atual governador Márcio França. Seu principal adversário será João Doria, do PSB. Se vier a ocorrer um segundo turno entre ambos, França precisará do apoio do campo progressista. Em vários estados do Nordeste, o PSB só terá sucesso eleitoral se vier a se associar às conquistas do lulismo. E se isso é um dado da realidade, por que não tentar já no primeiro turno uma frente inclusive com o PSB? Se Lula não puder ser candidato a presidente da República o maior desastre para o seu legado e para a sua condição pessoal é não ter um candidato que represente seu projeto político no segundo turno das eleições. Isso seria uma tragédia. Por este motivo, não há nada mais infantil do que interditar o debate para a construção desta frente a partir de agora. Lula sabe que em política não existe jogo ganho ou perdido. Existe jogo jogado. Por isso a partir de agora é preciso começar a mexer nas peças com um olho no gato e outro no peixe. Ou seja, não se pode mais pensar as eleições de outubro só com o nome de Lula. É preciso e necessário criar uma frente para o caso de seu nome não estar na cédula. E essa frente tem que ser a mais ampla possível. Porque o desafio é muito maior do que o de eleger um presidente para implementar um programa de governo. É o de restabelecer o Estado de direito e o processo democrático. E libertar Lula, se ele ainda estiver preso.