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Blog do Rovai: Democracia à la Merval, o porta voz da Globo

Não há lógica alguma na proposta de Merval, de um segundo turno com três candidatos, que não seja a de tentar uma solução desesperada para levar a terceira via à etapa final da eleição

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O colunista Merval Pereira teve a coragem de publicar um artigo no Globo neste domingo (8) defendendo uma tese que seria ridicularizada em qualquer mesa de bar, um 2º turno com três candidatos. Infelizmente ainda há quem tenha dado crédito para essa baboseira inclusive na esquerda.

Não há lógica alguma na proposta que não seja a de tentar uma solução desesperada para levar a terceira via à etapa final da eleição.

A existência do 2º turno tem por objetivo fazer com que o candidato mais votado conquiste ao menos 50% mais 1 dos votos válidos para ter sustentabilidade política.

Se for para eleger alguém sem essa maioria uma eleição de um turno só resolveria a questão. Inclusive porque os partidos políticos seriam mais comedidos em lançar candidaturas e já se aglutinariam antes naquela com mais chances de vitória no eixo ideológico do qual fazem parte.

Não só isso. Os eleitores também já migrariam seus votos para aquele candidato que consideravam mais forte no campo de sua preferência.

Era assim quando o Brasil não tinha segundo turno.

Erundina se tornou prefeita de São Paulo derrotando Paulo Maluf em 1988 porque colheu todos os votos progressistas para derrotar o “filhote da ditadura”. O candidato do PDT, Airton Soares, inclusive renunciou para apoiá-la publicamente. A candidatura de José Serra (PSDB) foi completamente desidratada e teve 6,9% dos votos válidos. João Leiva (PMDB) também mingou. Os pequenos partidos num sistema de turno único acabavam sendo prejudicados porque tinham que decidir entre lançar candidato e arriscar eleger um opositor ou não lançar e perder o espaço para apresentar suas ideias.

Em 1985, na mesma cidade de São Paulo, o PT foi muito criticado por lançar Eduardo Suplicy e essa divisão no campo progressista (sim, Fernando Henrique era considerado progressista e teve até o apoio declarado de Chico Buarque) ter acabado elegendo Jânio Quadros. O PSDB não existia e Fernando Henrique era do PMDB.

Enfim, o Brasil já teve eleições em turno único e isso já levou a resultados diferentes. O voto útil era algo muito forte.

O segundo turno permitiu a partido menores, como o Psol, por exemplo, se fortalecerem lançando candidatos.

É um modelo mais ajustado para o nosso atual momento histórico.

Eu diria que discutir se a eleição deveria ser decidida em primeiro ou segundo turno poderia fazer algum sentido, mas defenderei sempre a segunda opção por achá-la de menor risco. Sim, queridas, queridos e querides, quando falamos em risco ele se dá à extrema-direita também, não só à esquerda. Bolsonaro se elegeu mesmo com 2º turno, mas numa situação normal sem fakeada e com Lula candidato isso seria muito difícil.

Agora inventar um 2º turno com 3 candidatos é uma ideia absolutamente bizarra. E ela só tem um objetivo, levar um candidato do que a Globo e o Merval considera centro ao 2º turno. Porque no Brasil sem isso a tendência atual é ir um candidato mais à direita e outro mais à esquerda ao 2º turno. É uma ideia de ocasião para levar um candidato com menos de 10% das intenções de votos à etapa final.

Bizarro, bizarro, bizarro. 

Ainda bem que a Globo não manda mais no país.