Bolsonaro tenta se fazer de vítima ao apelar por clamor popular, avaliam líderes sobre carta-renúncia

O texto de um investidor que já havia rodado nas redes sociais há alguns dias conta que o presidente “sofre pressões de todas as corporações, em todos os poderes”, que o País “está disfuncional” e que “até agora (o presidente) não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou”

Foto: Marcos Corrêa/PR
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Líderes políticos reagiram ao texto compartilhado nesta sexta-feira (17) pelo presidente Jair Bolsonaro em que ele aborda as dificuldades que enfrenta para governar, sugerindo nas entrelinhas, a renúncia do cargo de Presidente da República. No fim do dia, veio à tona que o autor do "artigo anônimo" é, na verdade, um investidor que auta no mercado financeiro filiado ao partido Novo. O líder do PDT, André Figueiredo (CE) viu na atitude do presidente a antecipação de um novo Jânio Quadros. “Vivemos um momento delicadíssimo, onde tudo que vem deste Governo em seus diferentes núcleos ( familiar, militar, financeiro, morista) tem que ser bem analisado e prevenido. Esse texto é um prenúncio de querer ser um novo Jânio, já venho falando disto há algum tempo”, afirmou o congressista ao blog. Leia também Para cientista político, carta divulgada por Bolsonaro pode significar possibilidade de renúncia Na avaliação do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), esse discurso contra supostos “inimigos da Nação” é muito conhecido. "Por exemplo, foi fartamente usado por Hitler e o final todos conhecemos. O presidente da República não pode difundir discursos desse tipo, pois ele jurou cumprir e defender a Constituição. E fora da Constituição só existem as trevas de regimes ditatoriais", avaliou. Para o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS) os sinais de deteriorização presidencial são visíveis, havendo ainda possibilidade do presidente ser afastado após o Ministério Público quebrar o sigilo bancário de ex-funcionários do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente. “Essa relação dos Bolsonaro com as milícias cresce a cada momento. O próprio desespero da manifestação dele nos EUA contra os estudantes que protestaram [contra os cortes nos recursos da educação] mostra uma sensação de medo principalmente após a quebra do sigilo bancário de 90 pessoas, 12 delas nomeada como parente de Bolsonaro”. O texto fala que o presidente está “sofrendo pressões de todas as corporações, em todos os poderes”, que o País “está disfuncional” e que “até agora (o presidente) não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou”. Na avaliação de Orlando Silva, líder do PCdoB, essa “Janioquadrisse” do presidente revela suas limitações políticas e de horizonte. Para o deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP) o compartilhamento do texto é um fato gravíssimo. "Um parlamentar que exerceu 28 anos de mandato e que tem três filhos eleitos (dois no Congresso Nacional) não poderia desconhecer as enormes dificuldades de se governar um país da complexidade do Brasil", avaliou o congressista. Para ele, a nota mostra um "presidente acuado pela sua própria inabilidade em conduzir a nação", diz. "Revela também um desejo de mobilizar a sociedade contra as instituições para poder governar sem elas. Bolsonaro é um presidente sem projeto, sem agenda, sem base parlamentar e, cada dia mais, sem popularidade". Líderes da base do governo foram pegos de surpresa com a manifestação de Bolsonaro e, por enquanto, preferem se manifestar em reservado. "Bolsonaro repete Jânio Quadros do jeito dele, é claro, com texto apócrifo! É o início do fim ou o fim do início?", questiona um líder. "Será este texto a licença para iniciar o governo que o "centrão" quer? Como disse a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, na última quarta prometendo que vocês (nós) da imprensa iríamos ter uma surpresa na próxima semana?".