A direita cresce na crise que a direita criou

É muito difícil os movimentos progressistas crescerem na crise. Há mais greves quando há pleno emprego e o trabalhador tem menos medo de perder seu posto de trabalho.

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É muito difícil os movimentos progressistas crescerem na crise. Há mais greves quando há pleno emprego e o trabalhador tem menos medo de perder seu posto de trabalho. Por Gilberto Maringoni* Os mapas de votação da Alemanha mostram que o neonazismo teve seu melhor desempenho em regiões do antigo lado Oriental. Há razões para isso. Nessas áreas, o desemprego é maior, os salários são menores e a assistência social é mais precária, na mais próspera economia da Europa. Em zonas assim, a pregação ressentida da extrema-direita encontra terreno fértil para prosperar. Mutatis Mutandis, é o que se viu na eleição de Donald Trump, em 2016, quando seu discurso antipolítica e de denúncia de exportação de empregos para países asiáticos e latino-americanos colou fundo na alma do chamado cinturão da ferrugem, com sua desindustrialização crescente, no meio-oeste. Quem se afirma na crise é a direita ao despolitizar a própria crise. Ao desconectar os nexos da decadência econômica das decisões que as geraram, a reação capitaliza os próprios efeitos de suas políticas. O nazismo e o fascismo – formas radicais do conservadorismo – não são meramente ideologias do grande capital monopolista. São também ideologias do ressentimento social. Nessas horas, vale a pena voltar a Wilhelm Reich e seu Psicologia de massas do fascismo (1946). É uma pena que o livro não seja mais tão lido, como em outros tempos. “Não devemos esquecer que o movimento nacional-socialista, na sua primeira arrancada vitoriosa, apoiou-se em largas camadas das chamadas classes médias, isto é, os milhões de funcionários públicos e privados, comerciantes de classe média e de agricultores de classe média e baixa. Do ponto de vista da sua base social, o nacional-socialismo foi sempre um movimento da classe média baixa onde quer que tenha surgido: na Itália ou na Hungria, na Argentina ou na Noruega”. O crescimento desse tipo de extremismo aqui no Brasil não vicejou por termos tido hipotéticos governos de esquerda – o que nunca houve – mas quando foram adotadas políticas ultraliberais e regressivas, a partir do segundo governo Dilma, a direita ganhou as ruas não porque pobres estavam frequentando aeroportos, mas porque os que haviam ascendido socialmente estavam sendo empurrados para baixo novamente. Esse medo social deu gás ao reacionarismo ativo. É muito difícil os movimentos progressistas crescerem na crise. Há mais greves quando há pleno emprego e o trabalhador tem menos medo de perder seu posto de trabalho. Não devemos nos esquecer que a esquerda mundial expandiu seu raio de ação nos chamados anos gloriosos do capitalismo (1945-75). Foi nesse período que as revoluções chinesa, coreana, cubana, vietnamita e outras foram vitoriosas. Foi também quando a socialdemocracia europeia avançou, que o movimento anticolonial se espalhou, que os não alinhados se espalharam e em que a URSS viveu seu auge em todos os sentidos. Lutar pela melhoria das condições de vida e trabalho não significa apenas lutar para que a vida das pessoas melhore. Significa também lutar por melhores condições de luta. *Gilberto Maringoni é professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC. É também jornalista e cartunista Foto: Wikimedia/Commons