Derrotar o impeachment e reforçar a oposição pela esquerda

Escrito en BLOGS el
Há um nó político a ser destrinchado pelo movimento popular: como se colocar contra o impeachment sem apoiar a gestão Dilma Rousseff? Por Gilberto Maringoni 1. HÁ UM NÓ POLÍTICO a ser destrinchado pelo movimento popular: como se colocar contra o impeachment sem apoiar a gestão Dilma Rousseff? 2. A direita institucional – dentro e fora do governo – intensificou sua luta pela deposição da mandatária nos últimos dias. A manobra envolve blindar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para que o encaminhamento se dê sem sobressaltos no Congresso. Isso implica implodir a Comissão de Ética e ampliar sua base de sustentação. 3. A OPERAÇÃO GANHOU súbito reforço com a adesão de seis governadores e das principais figuras do PSDB. 4. SE IMPEACHMENT NÃO É GOLPE, impeachment sem provas é golpe e dos mais malandros. 5. POR QUE A DIREITA quer o golpe, se o governo Dilma aplica, com fidelidade canina, o programa ultraliberal, tão ao gosto do capital financeiro? 6. ESSA É A GRANDE QUESTÃO. Talvez esteja acontecendo, nesses últimos dias, um descolamento entre os interesses da direita institucional e os do grande capital. A meta imediata de uma não necessariamente é a de outro. 7. O CAPITAL NÃO OPERA DIRETAMENTE na vida institucional, com raríssimas exceções. No mais das vezes, prepostos seus cuidam de reger os negócios de Estado. Este tem uma gestão infinitamente mais complexa do que as movimentações do capital em busca de sua reprodução, embora no mais das vezes tais interesses se confundam. Não parece ser o excepcional caso desses dias. 8. A GESTÃO DO ESTADO envolve um jogo intrincado de pressões de variados setores – ou classes – sociais. O capital, por sua vez, cria sua lógica, dobra governos e, por vezes, atropela regras institucionais. 9. NO MOMENTO, a direita institucional quer o poder Executivo. Uma vez lá, realizará, com algumas nuances, o que já vem sendo feito. Se examinarmos o documento “Uma ponte para o futuro”, tudo indica que a diferença será de velocidade. O PMDB quer cortar já direitos trabalhistas e turbinar programas de privatização e desregulamentação. Colocará no ministério da Fazenda – tudo indica –Henrique Meirelles, e na Justiça, Nelson Jobim. Ambos também são preferidos do ex-presidente Lula. Estranha convergência... 10. TRÊS QUESTÕES AFLORAM, a partir daí: A) Por que então o impeachment é um retrocesso?, B) É isso que o capital quer? e C) O que Dilma e o PT estão fazendo para impedir o golpe? 11. PELA ORDEM. O impeachment é um retrocesso porque significa mandar as instituições – Constituição, Congresso e STF - para o espaço. Acabam-se regras e normas. Qualquer governante pode sofrer impedimento a qualquer hora e lugar. O poder discricionário não terá freios. 12. SOBRE A TÁTICA DO CAPITAL – ou dos grandes empresários. Ao que parece, não têm ainda questão fechada. O fato de O Globo e a Folha de S. Paulo, num mesmo fim de semana, terem atacado pesadamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pode indicar que a rota desenhada pela direita institucional não seja a que mais atende aos desígnios de quem controla o dinheiro. 13. O RITO E O RITMO do impeachment significa parar o país por pelo menos três meses, descontados os 180 dias subsequentes que o Senado terá para examinar a matéria. Tempo em que negócios podem não prosperar e em que a economia entre em queda livre, maior que a atual. 14. Por isso, é bem possível que o capital ainda não saiba qual a melhor escolha para seus interesses. 15. É ESTE TAMBÉM O MOTIVO que leva a resposta à terceira questão. O governo petista faz um esforço tremendo para mostrar aos monopólios que o ajuste continua, que novas medidas virão e que a rota ultraliberal não sofrerá interrupções. A missão está a cargo de Joaquim Levy – que esteve na FEBRABAN e desdobra-se em mostrar que segue como homem forte do governo. É secundado na tarefa pelo ministro Jaques Wagner. 16. O PRESIDENTE LULA engrossou o coro, na semana passada. Em ato na capital paulista, ele afirmou o seguinte: "É como se estivéssemos num trem descarrilhado. Agora, não temos que ficar brigando pelo vagão que a gente vai. A gente precisa colocar o trem outra vez nos trilhos. Quando estiver nos trilhos, a gente pode brigar se vai de primeira ou segunda classe". 17. Ou seja, vamos lutar contra o impeachment, mas não vamos criticar o que o governo vem fazendo. 18. BARRAR O IMPEACHMENT E APROFUNDAR O AJUSTE são a mesma coisa para o governo e para o PT. Daí sua pregação junto a quem manda na grana. 19. QUARTA PERGUNTA: Por que, então, o movimento popular deve se colocar contra o impeachment? 20. POR UMA QUESTÃO DE PRINCÍPIO da democracia. E deve aproveitar o momento em que o governo está enfraquecido para denunciar a política econômica e sensibilizar os setores descontentes, chamando-os para a luta. 21. ASSIM, É DECISIVO engrossar as manifestações contra o golpe. Para desmascarar a direita e reafirmar sua oposição ao governo Dilma, dialogando com a insatisfação da maioria da população. Não se pode, em hipótese alguma, entrar na onda do “Fica Dilma” ou do “Fora Dilma”, obras e artes daqueles que acabam por paralisar as mobilizações. Foto: Ichiro Guerra