Como matar um homem de Três Corações

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Lendo as regras recém-anunciadas para a criação de novos municípios, vetadas por Dilma Rousseff, fiquei me lembrando dos nomes de algumas cidades brasileiras. São muito interessantes. Vou citar alguns deles. No Rio Grande do Sul, existe a cidade de Não Me Toques. Há versões diferentes para a história desse nome. Uma é de que seria em homenagem a uma planta que existia muito na região. Outra é que um fazendeiro que morava ali e não queria se desfazer das terras, e dizia “não me toques daqui”. Interessante é que em 1971 o prefeito resolveu mudar o nome da cidade para Campo Formoso, e a população reagiu, não aceitou. Lembro-me de uma entrevista em que um caminhoneiro dizia que em qualquer lugar que parava, alguém via a placa do caminhão, com o nome Não Me Toques e logo vinha puxar assunto. Fazia muitas amizades assim. Já o nome Campo Formoso não atraía ninguém. Em Santa Catarina, existe Trombudo Central. Há várias versões sobre o nome da cidade, uma delas é que o nome Trombudo, que é também de rios e de uma serra, é porque havia muitas antas na região, e anta tem uma pequena tromba. Outra é que a junção de dois rios no local, o Trombudo Alto e o Braço do Trombudo, tem um formato parecido com uma tromba. E há ainda a de que lá caía muitas trombas d’água. No Rio de Janeiro existe Pati do Alferes. Alferes é uma antiga patente militar e na fazenda de um deles, onde foi fundada a cidade, tinha muito de uma palmeira chamada pati, que é também conhecida como catulé. Ainda no estado do Rio, tem a cidade de Varre-Sai. A história desse nome é a cidade surgiu a partir de um pouso de tropeiros que vinham de Minas Gerais em direção ao Espírito Santo, e a dona de pouso, chamada dona Inácia, impunha uma condição para permitir que eles pernoitassem ali: de manhã, varre e sai. Na Paraíba, existe a Baía da Traição. Em 1501 chegou ao local uma expedição de reconhecimento, em que participava Américo Vespúcio, dois marinheiros portugueses foram chamados para terra, pelos índios Potiguara, recebidos festivamente, mas não voltaram. Um outro português foi ver o que tinha acontecido e o mataram na praia, à vista de toda a tripulação do navio. E banquetearam o dito-cujo ali mesmo. Potiguara, em tupi, significa comedor de camarão. Mas os Potiguara comiam gente também. No estado de São Paulo, chama a atenção a quantidade de cidades com nomes tupis. Alguns nomes são bem curiosos, como é o caso de Itaquaquecetuba. Taquaquicé é um tipo de taquara bem cortante, e Itaquaquecetuba é o lugar em que tinha muito dessa taquara. Já Pindamonhangaba significa “lugar onde os homens fazem anzol”. Em Minas Gerais são muitos os nomes que podem ser considerados incomuns. Por que em pleno interior existe uma cidade chamada Mar de Espanha? A lenda é que numa tarde em que houve uma enchente na confluência dos rios Piabanha e Paraibuna, um espanhol se impressionou e disse: “Parece mais um mar de Espanha”. Continuemos em Minas Gerais, nas cidades de Passa Tempo, Passa Quatro e Passa Vinte. Uma história que contam é que os bandeirantes pousavam num determinado lugar e diziam: “Vamos passar um tempo ali”, e nesse lugar surgiu a cidade chamada Passa Tempo. Mas há também a versão de que ali viviam duas velhinhas que ficavam fiando na porta de casa, e quando alguém perguntava o que estavam fazendo, respondiam: “Passando o tempo”. Também foi um bandeirante, Fernão Dias, o responsável pelo nome Passa Quatro, ao indicar para outros bandeirantes um lugar em que ele pousou em 1674, dizendo: “Saindo da capitania de São Paulo, segue o Rio Paraíba do Sul, terá ao teu norte uma grande cordilheira, a Mantiqueira. Ao encontrares nela uma garganta profunda é o Embaú, a única passagem tranquila para o Sertão das Gerais. Então, galga a serra e passa quatro vezes o rio que se escorrega por um verde espaçoso vale...”. Passa Vinte tem mais de uma versão, uma delas é que na divisa dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro foi colocada uma barreira fiscal onde uma balsa fazia a travessia do rio, transportando no máximo vinte pessoas. Daí se referiam a ela como “lá no passa vinte”. Bom, em Minas tem as cidades de Três Corações e Três Pontas. Para o nome Três Corações uma das versões é que provém de uma capela erigida por Tomé Martins em louvor aos corações de Jesus, Maria e José. Já no local onde se situa Três Pontas, há uma serra que servia de referência para viajantes e tropeiros desde o século XVIII, e nela foi instalado um quilombo chamado Cascalho. Seu formato deu origem à cidade de Três Pontas. Curiosidades: em Três Corações nasceu Pelé. Em Três Pontas viveu Milton Nascimento e outros músicos do Clube da Esquina, mas o que se lembra mais na região é uma brincadeira que fazem com os nomes dessas cidades: “Sabe como é que se mata um homem de Três Corações?”. A resposta é: “Com uma faca de Três Pontas”. Mais recentemente incorporaram mais um nome de cidade a essa brincadeira, e não é uma cidade mineira, mas fluminense: “E joga o corpo em Três Rios”.