Considerações sobre a marvada

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O que melhorou no Brasil nos últimos anos? Não, não estou falando do governo Lula. É de bem antes, de mais ou menos 1970 para cá. E o que estou pensando mesmo são nas bebidas. Sem dúvida elas melhoraram muito no Brasil neste período. Inclusive a cachaça, que muita gente pensa que antes era melhor. Naquele tempo, nos bares de São Paulo, a considerada melhor era a Velho Barreiro. Em Minas e em alambiques do interior paulista tinha cachaças melhores, mas elas nem chegavam aqui. Eu tinha em casa porque trazia de Minas. Nos botecos daqui havia quase só beberagens como Tatuzinho, Rio Pedrense, por aí... Lembro-me que no inverno de 1979, quando o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo estava no auge da agitação, eu ia lá fazer matéria para o jornal Em Tempo, e para rebater o frio tinha que tomar umas cachaças. E o que a gente tomava? Eram essas já citadas. Quem tomava 51 era chamado de burguês pela turma do Lula... Veja só. A cachaça era desprestigiada, considerada bebida de pobre. E com o preconceito existente, também bebida de negro. Pegava mal tomar cachaça, a não ser sob a forma de caipirinha. Até em cidades do Nordeste encontrei bares que tinham preconceito contra ela. Muitos deles não vendiam pinga pura. Cito como exemplo a primeira vez que fui à Paraíba, em janeiro de 1978, com um bando de estudantes amigos. Depois de uns dias no interior, fomos para João Pessoa. Nessa época, a cidade era bem menor e praticamente não havia prédios de apartamentos na orla. Fomos a um bar em Tambaú, com amigos paraibanos, algumas pessoas pediram cerveja, outras pediram caipirinha e eu pedi cachaça e cerveja. O garçom disse que não “trabalhavam” com cachaça. — Uai... Pediram caipirinha e você disse que tem — protestei. — Caipirinha é diferente — respondeu ele, na maior cara de pau. Olhei sério pra ele e pedi: — Então me traga uma caipirinha sem gelo, sem açúcar e sem limão. Ele trouxe!