Desditados (ditados reeditados)

No Blog do Mouzar, ele analisa o momento atua: “Mesmo nos horrorizando e criticando o que dizem, acabamos fazendo o que eles querem: perdendo o humor e não propondo coisas que mudem o Brasil para melhor, enquanto eles ferram o país e o povo”

Foto: Reprodução/InstagramCréditos: Flickr Bolsonaro
Escrito en OPINIÃO el
Publiquei aqui, recentemente, uns “pós-conceitos” válidos para os tempos atuais, depois uns “desaforismos”, em seguida uns “kai-kais” e depois umas “preguntas”. Nestes tempos em que a imbecilidade e a truculência são normas de conduta de “pessoas de bem”, se a gente bobear, fica sendo pautado direto pelos expoentes do momento, que produzem assuntos horríveis todos os dias e muita gente fica repercutindo. Mesmo nos horrorizando e criticando o que dizem, acabamos fazendo o que eles querem: perdendo o humor e não propondo coisas que mudem o Brasil para melhor, enquanto eles ferram o país e o povo. Então, publico uns desditados, que não passam de ditados revistos, reeditados. Muitos não são de agora: foram publicados há tempos neste mesmo blog e em outros lugares. Mas para não dizer que não falei deles, começo lembrando que “devagar se vai ao longe”, mas com uma adaptação para o momento atual: “Devagar, fui longe. Mas voltei correndo: o lugar a que fui era cheio de bolsonaristas”. Os demais são mera diversão. Aí vão: Semeei ventos, mas a safra foi ruim, só colhi brisas.
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Veio um cão latindo, pensei: esse não morde. Mas parou de latir...
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Filho de peixe é peixinho, e eu uso como isca de peixe grande.
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Mão fria, coração quente. Mas com a defunta isso não funcionou.
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Chuva não quebra osso, mas escorreguei no barro, caí e quebrei o braço.
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Ele disse que estava com a pulga atrás da orelha. Recomendei inseticida...
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Quem não deve não teme. Mas geralmente é quem paga.
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De pensar morreu um burro. De não pensar morrem muitos.
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Tudo o que cai na rede, é peixe. Mas tinha um mergulhador...
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Vergonha é roubar e não poder carregar. Mas levando parte do roubo já é lucro.
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Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Por isso usei babador.
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O que é do homem o bicho não come. Diga isso aos ratos...
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Pra burro velho, o negócio é capim novo. O difícil é convencer o “capim novo”...
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No frigir dos ovos é que a manteiga chia. Mas eu frito com óleo.
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Duas espadas não cabem na mesma bainha. Mas tem “bainhas” em que entram muitas “espadas”: sai uma, entra outra.
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Em pé de pobre é que o sapato aperta. Por isso eu uso sandália.
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Mulher de bigode, nem o diabo pode. Mesmo fazendo depilação?
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Deus me deu um lugar ao sol. Mas eu queria mesmo era um lugar à sombra.
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Peixe e visita, depois de três dias fedem. Pra peixe ainda tem a opção do congelador...
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Quem tem telhado de vidro não atira pedra no vizinho. Mas o sujeito que mora num prédio alto e seu vizinho em uma casa térrea, não acredita nisso...
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O fulano chegou aqui com uma mão na frente e a outra atrás. Eu cheguei com uma mão no lado direito e outra no lado esquerdo.
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O que vem de baixo não me atinge? Pois não arrisco a sentar num formigueiro.
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Se a vida lhe der um limão... faça dele uma caipirinha.
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Uma mão sujou a outra.
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Águas passadas... movem moinhos rio abaixo.
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Quem poupa... Tinha: veio um ladrão e roubou tudo.
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Em boca fechada... não entra comida.
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A mentira tem pernas curtas... mas não precisa delas: ela voa.
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Se queres bem casar, teu igual vai procurar. Quer dizer que casamento bom é de homem com homem e de mulher com mulher?
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Beleza não põe mesa. Feiura também não.
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Quem é vivo sempre desaparece (este alguém publicou no Pasquim, numa época em que as ditaduras do Cone Sul – como a do Brasil e da Argentina – “desapareciam” opositores)
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Quem é vivo sempre aparece. Mas os mais vivos são especialistas em desaparecer, em certas circunstâncias.
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Atrás de um grande homem, e de um pequeno também, sempre tem uma bunda.
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Amor só de mãe... já dizia Édipo.
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Amor com amor se paga... Falei isso, mas a prostituta exigiu ser paga com grana mesmo.
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O amor é cego, a Justiça é cega... talvez seja por isso que levam tanta desvantagem aqui.
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Quem dá aos pobres, empresta a Deus, disse a mulher levando o mendigo para a cama.
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Desgraça pouca é bobagem. Não basta um presidente... tem sua prole!
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Este foi adaptado por Luís Fernando Veríssimo: “Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta”.
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A mocidade é defeito que se corrige dia a dia. Já a velhice não tem como se corrigir.
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Quem mais conhece a palma da minha mão é meu pinto.
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Dinheiro não tem cheiro. Mas o jeito que muita gente ganha, fede. E muito.
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Quem fala a verdade não merece castigo… Mas perde empregos em alguns jornais, revistas e emissoras de rádio e TV.
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O dever me chama. Os direitos fogem de mim...
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Plantando dá... calo na mão.
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Um ditado melhorado por Paulo Leminski: “Salve-se quem quiser. Perca-se quem puder!”.
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Este é de Jorge Luis Borges: “Todos os caminhos levam à morte. Perca-se”.
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Este é do meu amigo Mário Pires, dito enquanto tomava uma cachaça: “Mens sana, in corpore cana”.
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Um ditado que virou praticamente um lema é “Não desista nunca do seu sonho”. Este, o Barão de Itararé (ou Luiz Fernando Veríssimo, segundo alguns) se encarregou de fazer um complemento. Ficou assim: “Não desista nunca do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra”. (Todos esses “desditados” fazem parte do livro não publicado “Pós-conceitos, desaforismos, kai-kais, preguntas e desditados”)
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.