Donald Trump vem aí! E daí?

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Democratas são melhores? Bom... Tenho lembranças de um sertanejo apaixonado por Kennedy Quando se discute a onda fascista e brega que vai crescendo no mundo (inclusive aqui), a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos é assunto garantido. Brega e com rompantes fascistóides, o sujeito que vai substituir Barack Obama parece representar bem o tempo em que vivemos. Mas eu não sou dos que se empolgam com as eleições no império do Norte. Democrata ou republicano, aqui entraremos pelo cano, já disse e repeti. Certo, os democratas, parte deles pelo menos, são mais civilizados. Ou parecem. Mas por trás da aparência de civilidade de alguns deles, há atitudes dignas dos republicanos como Ronald Reagan e, agora, Trump. Certos democratas sabem melhor dourar a pílula. Um exemplo, para mim, é John Kennedy. Talvez por ter sido assassinado enquanto era presidente, ficou com uma aura de homem bom, justo e progressista, quase santo. Mas não foi ele quem incrementou a Guerra do Vietnã? Não foi no governo dele que a CIA ajudou mercenários a invadir Cuba a partir da Baía dos Porcos? Por acaso, no governo dele os EUA deixaram de encarar a América Latina como seu quintal? Por acaso a CIA se meteu menos nos nossos países? Bom... Tenho me lembrado de um causo que escrevi há muito tempo, e que vou repetir aqui. Decepções de um sertanejo Era uma dificuldade para o Agamenon cultivar a imagem do seu ídolo, John Kennedy, morando no sertão nordestino. Mas ele cultivava. Mandava comprar em Recife, Fortaleza ou qualquer lugar onde ficasse sabendo que existia, todas as publicações em língua portuguesa sobre o ex-presidente norte-americano. Quando resolveu se casar, nem precisava perguntar a ele qual seria o nome do seu primeiro filho. A mulher, a mãe, a sogra, todo mundo já sabia: o primeiro varão teria o nome de Kennedy. No prazo certinho, nove meses depois do casamento, sua mulher deu à luz, mas Agamenon ficou um pouco frustrado, porque era menina. Conformou-se, enfim: — Já que não posso pôr o nome do maior presidente dos Estados Unidos que morreu assassinado em 22 de novembro de 1963 — ele sabia tudo sobre Kennedy —, ponho o nome da mulher dele: Jacqueline. A eterna viúva do maior presidente do mundo — aí já não era só dos Estados Unidos — merece igualmente dar o nome à minha primogênita. Mas logo começou a desconfiar que Jacqueline (a legítima) traíra não só a memória de Kennedy, como a confiança dele, Agamenon. Ela casou-se com o milionário Aristóteles Onassis, esse gesto foi como uma facada em suas costas: — Essa mulher ingrata não está respeitando o nome Kennedy, de um dos maiores presidentes dos Estados Unidos da América do Norte — aí já não era “do mundo”, mas dos Estados Unidos de novo. E nem era mais o maior, mas apenas “um dos maiores”. Ele começava a vacilar em sua fé quase religiosa em Kennedy. Em seguida, quando Jacqueline apareceu pelada em fotos de revistas [não foram fotos posadas nem autorizadas, ela estava numa ilha, foi fotografada por paparazzi], ele ficou doido de raiva. Mas um novo ídolo lhe tomava a mente. Era Nixon, o presidente norte-americano. Saiu um de sua fé, entrou outro. Quando nasceu seu segundo filho, desta vez um homem mesmo, não se chamou Kennedy. Recebeu o nome de Nixon, que ganhara a sua predileção: — Esse Nixon só pode ser muito bom. Se ele foi eleito presidente dos Estados Unidos, só pode ser bom. O povo norte-americano não erra! Pois em seguida estourou o escândalo Watergate, envolvendo Nixon, que ficou com o nome mais sujo do que pau de galinheiro. Teve de renunciar à presidência. Agamenon, no dia da renúncia, entrou num boteco, bebeu uma pinga, deu um murro no balcão e sentenciou: — Não faço mais filho! Foto: Michael Vadon / Fotos Públicas