O que cometo!

Mouzar Benedito hoje vai de sonetos! Só que os versos clássicos vão do seu jeito!

Escrito en OPINIÃO el

Sem ser poeta, quis fazer haicais, fiz imitações que chamo de kaikais. Agora ataco em outro estilo poético.

Soneto! Quem faz isso hoje em dia? Tem sonetistas, sim, mas não conheço. Houve poetas que eram craques nisso, incluindo Vinícius de Moraes, Gregório de Matos Guerra, Olavo Bilac. Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Drummond, Camões, Hilda Hilst, Ariano Suassuna e muitos outros.

Talvez haja quem nem saiba o que é soneto. Explico superficialmente: é uma “estrutura literária” com 14 versos, sendo dois quartetos (com 4 versos) e dois tercetos (com 3 versos).

Soneto de verdade tem uma métrica (que não me dediquei a fazer) e regras para rimas (que fiz mais ou menos).

Então, não dá para chamar o que faço de soneto. Não sou poeta. Mas cometo umas coisas, em vez de soneto, o que cometo!

Muita gente costumava se referir a sonetos como poemas de amor, mas nem todos eram. Por exemplo: Vinícius, sim, fazia sonetos amorosos (pelo menos os que conheci), Bilac uns românticos e outros de exaltação. Dos sonetos de Cruz e Sousa e eu poderia dizer que são filosóficos; os de Augusto dos Anjos, cheios de angústia, e Gregório de Matos Guerra justificava o apelido “Boca do Inferno”. Se fosse escolher um sonetista meu inspirador, seria ele, mas os dois que apresento a seguir são inspirados em Olavo Bilac, sem suas características de exaltação nem versos de amor. Os tempos atuais não combinam com isso.

Recomendo que cometam também. Não resolve, mas distrai.

Patriotada

Criança, nunca verás um país como este

Em que o governo quer que o povo morra...

Em que cada ministério é uma zorra

E que viver aqui significa: te fodeste

***

Tudo bem, não foste tu que escolheste

E nem poderias imaginar que esta porra

Iria se tornar uma grande masmorra

Ah... se pudesses pensar onde te meteste

***

Tudo por causa de um eleitorado gado

Que obedece cegamente ao bestalhão

E considera gente de bem quem é safado.

***

Um tipo muito maligno, sem educação,

Que é cheio de ódio, baba feito danado

E tem a demência corrupta como razão

***

O que ouves?

Ora, direis ouvir besteira...

Certo. Eu ouvi, todo mundo ouviu,

Afinal estamos no Brasil

Onde hoje valorizam a asneira.

***

Se me perguntas como evitar isso

Eu te digo: tá difícil, meu caro!

Tape seus ouvidos para o Bolsonaro

E o seu nacionalismo postiço

***

Mas se fores um grande imbecil

Ou sendo rato queres escapar da ratoeira

Ouça, fale e aja como a turma do fuzil

***

Faça do ódio sua principal bandeira

Pois só quem odeia sem ser sutil

Neste governo pode fazer carreira