Uma parada em Goiânia

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Espírito de geógrafo é uma coisa danada! Enquanto as pessoas “normais” vão passar férias em cidades praianas e outros lugares turísticos, a gente procura conhecer de verdade o Brasil. Não deixamos de ir aos lugares ditos turísticos ? já fui pra Salvador, Diamantina, Belém, São Francisco do Sul, Florianópolis, Maceió, Foz do Iguaçu, Manaus e muitos outros lugares desses ? mas de vez em quando nos enfiamos por lugares onde normalmente só vai quem tem parentes lá. E muitas vezes acabamos “descobrindo” ótimos lugares aonde ninguém vai. Quem já viajou de férias ou folgas prolongadas para Santana do Cariri e Crato (CE), para o Vale do Jequitinhonha (MG), Corumbá e Ladário (MS), Caruaru e Petrolina (PE), Barra e Barreiras (BA), Iraí (RS), Teresina e Picos (PI), Timão (MA), Mulungu (PB), Itapura (SP), Macapá (AP), Barracão (PR), Dionísio Cerqueira (SC), Palmas (TO) e Boa Vista (RR)? Pois eu já. Tá certo que não foram férias inteiras nesses lugares, muitas vezes acabei esticando até lugares como Canoa Quebrada, Fortaleza, Baía da Traição, Recife e Olinda, São Luís e outros locais “turísticos”, mas nossos destinos principais eram os primeiros citados. Nosso negócio era conhecer de verdade o Brasil. Numa dessas viagens de férias, fui parar em Posse, norte de Goiás, com um amigo e colega de muitas viagens, o Marinho. De lá, seguiríamos para Goiânia, lugar que me dava sorte, com muitas mulheres bonitas e em que eu sempre arrumava namorada. Depois, iríamos para as cidades de Goiás e Pirenópolis ? esta última, ainda quase desconhecida pelos turistas. Hoje é uma cidade badalada. Em Posse mesmo, o Marinho começou a namorar uma moreninha linda, a Edinha. E ela resolveu acompanhar a gente até Goiânia, onde um tio seu, o Sissi, tinha um bar no bairro chamado Campinas. Chegamos a Goiânia e, para azar meu, havia um hotelzinho bem espelunca ao lado do bar do Sissi. Pronto! O Marinho não sairia mais dali. Um barzinho bem caído, com uma morena bonita lhe fazendo companhia o dia inteiro, e o hotel baratinho ao lado... era tudo o que ele queria. Um lugar pra parar um tempão. Seria difícil continuar a viagem. Levantávamos por volta das dez da manhã, tomávamos um café e ele ia pro Bar do Sissi, onde a Edinha já estava. Começava a beber cerveja e dançar com ela e assim ia até de madrugada. Almoçava e jantava no Bar do Sissi. Durante o resto do tempo, bebia e dançava com a Edinha, quando o rádio do bar tocava alguma música legal. E, como estava animado, achava todas as músicas ótimas. Eu ficava um pouco no bar, mas saía bastante, voltava, e ele estava lá, bebendo e dançando. Lá pelo quarto ou quinto dia comecei a insistir em continuar a viagem. Ele pedia mais um dia... Até que dei um ultimato: — Se você quiser, fique aí. Eu sigo pra Goiás amanhã. Já vi até os horários de ônibus. Falei isso e fui passear. Voltei às cinco da tarde, já pensando em continuar a viagem sozinho mesmo. Os dois dançavam animados. Ela estava com um vestido tomara-que-caia, cobrindo só dos seios para baixo. Os ombros ficavam expostos, e o Marinho quase babava neles, dançando. Quase babava... e vomitou. Isso mesmo. Tinha comido alguma coisa e bebido bastante. Não deu tempo pra nada. Vomitou feio no ombro da Edinha. Vi o vômito descendo pelo peito e pelas costas e entrando debaixo do vestido, e fiquei alegre, pensando que agora ela lhe daria um fora e ele não teria mais o que fazer ali. Eu teria companhia para continuar a viagem. A Edinha pegou um pano de limpar pratos, ao lado da pia, limpou os ombros, as costas e os seios, sujos de vômitos, rindo, e continuaram a dançar. ? Ô mulher sem-vergonha ? falei baixinho, e fui a um boteco frequentado por universitárias, belas morenas goianas... (publicada originalmente, com adaptações, no livro Trem Doido) Esta crônica faz parte da edição nº 100 de Fórum.