Vila Madalena pós-Copa

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Acabada a Copa do Mundo, um assunto comum agora é o legado dela. Não me interessam as previsões sobre o resultado da Copa e sua influência nas eleições, por exemplo. Os palpites, como vimos antes da Copa, foram praticamente todos furados.

Como morador da Vila Madalena, vejo um outro legado, que não sei será bom ou ruim.

A Vila que já era famosa em São Paulo e até fora do estado, agora entrou no mapa do mundo. Antes da Copa já se via algumas figuras diferentes caminhando pela região, frequentando os seus bares, se hospedando em seus albergues... Não era muito raro ouvir gente falando em inglês, francês, alemão e outras línguas.

Na Copa a coisa extrapolou. Por todos os lados se ouvia as mais variadas línguas estrangeiras. Como a grande maioria dos estrangeiros gostou, é provável que recomendem para seus conterrâneos e que eles mesmos deem suas caras por aqui de novo. Só que fico pensando: será que vão encontrar a mesma Vila Madalena de agora?

Essa pergunta tem sentido. A Vila já mudou muito. Foi bairro de portugueses e espanhóis que alugavam casinhas de fundo para trabalhadores da construção civil e depois para estudantes.

Esses estudantes se formaram e continuaram na Vila, que virou bairro de intelectuais e artistas. O charme da Vila atraiu os yuppies, nome que se dava a jovens executivos metidos a besta. Aí construíram muitos prédios igualmente metidos a besta.

Aproveitando esses novos consumidores, as vendas e botecos tipo sujinho cederam lugar a bares e restaurante caros, mas animados. A Vila se encheu de bares e passou a ser chamado de “bairro boêmio”. E foi isso que os torcedores encontraram aqui este ano.

Mas quem andar pela Vila vê o resultado da especulação imobiliária atual na região: casas e mais casas vão sendo derrubadas para dar lugar a monstrengos arquitetônicos, que custam muito caro e têm garagens com vagas para muitos carros por apartamento.

Já existem muitos prédios novos, e parece que não vai sobrar uma casa de moradia. O que não for bar, vai virar prédio. Dá tristeza ver, por exemplo, o lado direito do último quarteirão da rua Mourato Coelho. Casarões bonitos e até uma escola foram derrubados e já se prepara o terreno para construir algo que certamente deve ser para novos ricos, pois os preços que se cobra por qualquer muquifo com ares pomposos são absurdos.

O trânsito, que já está ruim, só tende a piorar. Cada apartamento dá direito a não sei quantas vagas para carro na garagem.

E a paisagem também deve se deteriorar. O jeitão de vila, que já foi muito presente e hoje não é tanto assim, tende a se perder de vez, com um amontoado de prédios que na maioria são muito feios. Pomposos, mas feios.

Quem quiser conferir, que ande a pé pelo bairro, observando a quantidade de tapumes. Sugiro que passe pela rua Fradique Coutinho. Um prédio horroroso acaba de ser construído, e é grande, atravessa o quarteirão inteiro e tem entradas também pela rua Fidalga e pela Aspicuelta.

Alto, revestido de granito cinza, parece um grande um túmulo. Torço para que não seja uma amostra de como será o bairro todo no futuro. Mas já vi gente dizendo que aquilo é o jazigo da Vila.